Da Terra à Mesa

O Pão de Ló de Margaride alimentou a família real e é soberano na doçaria tradicional

O Pão de Ló de Margaride alimentou a família real e é soberano na doçaria tradicional

Com mais de 300 anos de existência, o Pão de Ló de Margaride é um emblema da doçaria felgueirense. O da Fábrica do Pão de Ló de Margaride, feito ainda hoje de forma artesanal, chegou a fornecer a Casa Real Portuguesa. Guilherme Lickfold, à frente do negócio da família, conta como tudo começou. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tradicionalmente partido e comido à mão, o Pão de Ló de Margaride nasceu na freguesia que lhe dá nome, no concelho de Felgueiras, distrito do Porto, no início do século XVIII. “Clara Maria foi a primeira doceira a iniciar o fabrico deste doce já secular. Após a sua morte, foi Antónia Félix que continuou o fabrico artesanal do pão de ló que, mais tarde, sucedeu a Leonor Rosa da Silva. Durante mais de cinquenta anos de saberes e técnicas artesanais, Leonor Rosa da Silva conseguiu popularizar o seu pão de ló de Margaride, cujo nome é hoje bem conhecido em Portugal e além-fronteiras”, lê-se no site da Fábrica do Pão de Ló de Margaride, a casa mais antiga no fabrico deste doce, com mais de 300 anos. “O seu prestígio como casa ímpar no fabrico artesanal de doçaria tradicional portuguesa, concedeu-lhe, a 5 de dezembro de 1888, o reconhecimento de ‘Fornecedora da Real e Ducal Casa de Bragança’ e, mais tarde, a 22 de abril de 1893, o de ‘Fornecedora da Casa Real Portuguesa’”, concluem.

Leonor Rosa da Silva faleceu a 9 de julho de 1898, sem deixar descendentes e, ainda hoje, “a casa conserva e valoriza o legado artesanal herdado pelas gerações anteriores, preservando a memória familiar e coletiva associada aos doces de Margaride”.

Fábrica de Pão de Ló de Margaride

O saber que passa de geração em geração

Elaborado com ovos, farinha e açúcar, os três ingredientes-base da confeção deste bolo, guarda um segredo que só Guilherme Lickfold, 46 anos, atual responsável pela empresa familiar, sabe. “Há uma parte do processo que é feita por mim, que deixo pronta, e se mistura com o que é feito pelos funcionários”. Esteticamente e em termos de ingredientes, tentam aproximar-se o mais possível do que era feito antigamente, tendo como princípios a autenticidade e a tradição. “Muita gente usa ovos pasteurizados, mas nós ainda usamos o ovo tradicional”, exemplifica.

Primeiro, partem-se os ovos e separam-se as gemas das claras, que não são utilizadas na receita. Depois, colocam-se os ovos e o açúcar nas amassadeiras durante 45 minutos, até a massa ficar homogénea. A farinha é envolvida posteriormente e as massas são colocadas em formas de barro tradicionais com papel almaço e batidas já no interior das formas. Os fornos – em conjunto, os dois têm capacidade para 77 kg de pão de ló em simultâneo – são aquecidos a 260ºC e cozem os bolos durante 45 minutos.

Fábrica de Pão de Ló de Margaride

Muito procurado na época da Páscoa, sendo até o elemento central em muitas mesas, este “é um pão de ló de massa leve e fofa, mais seco do que o de Ovar, por exemplo, mas o mais tradicional no Porto, Braga e Guimarães”, elucida Guilherme. No site da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural acrescentam que este doce “apresenta forma redonda, com orifício central, diâmetro de cerca de 40 cm e altura de 12 cm. A cor é amarelo-ouro no interior e amarelo-torrada por cima”.

Além do pão de ló, as cavacas de Margaride também fazem parte do rol de produtos aqui confecionados e podem ser provadas na visita completa, que termina com uma degustação de pão de ló, cavacas e vinho do Porto. Estão disponíveis todos os dias, exceto a 1 de janeiro e nas semanas anteriores à Páscoa e ao Natal, alturas de mais trabalho.

Fábrica de Pão de Ló de Margaride

A Fábrica Pão de Ló de Margaride, desde 1900 no mesmo local, faz parte da Rota do Românico e é um dos pontos turísticos da região, reforçando a orientação para o mercado e aumentando a competitividade, de acordo com uma das medidas da Política Agrícola Comum para o período compreendido entre 2023-2027.

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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