Lendas, mistérios e assombrações: onde (não) ir na noite das bruxas

Envoltos em mistério, histórias assustadoras, superstições ou fenómenos por explicar, estes são locais perfeitos para (não) ir na noite das bruxas e ter medo, muito medo!
Envoltos em mistério, histórias assustadoras, superstições ou fenómenos por explicar, estes são locais perfeitos para (não) ir na noite das bruxas e ter medo, muito medo!
Uma aldeia virada do avesso pela mão do Diabo que ali anda à solta; outra fantasma, que submerge das águas; o morto capaz de matar o vivo e outras lendas, mistérios e superstições são - só para os mais corajosos - palco perfeito para a noite das bruxas, assinalada a 31 de outubro, e cada vez promovida, como noite de Halloween.
Caminho do morto que matou o vivo
Sinuoso e íngreme, o percurso que liga as aldeias da Pena e de Covas do Rio encerra uma história macabra. Sempre que alguém morria na Aldeia da Pena, era este o único caminho até ao cemitério de Covas do Rio. O caixão tinha de ser transportado em ombros pelo difícil trilho. Um dia, aconteceu o pior: um homem que carregava a parte da frente do caixão terá escorregado e este caiu-lhe na cabeça, matando-o. Foi assim que o morto matou o vivo." Inserido na Rota da Água e da Pedra das Montanhas Mágicas, oferece, ao longo de três quilómetros, uma paisagem deslumbrante, pontuada de fauna e flora diversas e ainda icnofósseis de trilobites que por aqui podemos ver, que remontam há 480 milhões de anos. Devido à dificuldade do caminho, por não estar marcado, aconselha-se que seja percorrido com a ajuda de um guia. Ali perto, prolongue o mistério no restaurante Onde o Morto Matou o Vivo, na Aldeia da Pena, e numa visita ao Portal do Inferno.
Aceredo, a aldeia fantasma
Muito próximo da fronteira portuguesa, a cerca de 5 km da fronteira entre Portugal e Espanha, no município de Lobios, em Ourense, a aldeia galega de Aceredo esteve submersa durante 30 anos, desde janeiro de 1992, pelo enchimento da Barragem do Alto Lindoso, até reaparecer recentemente por força da seca que a tornou novamente visível, permitindo também que possa ser percorrida a pé na totalidade. Evacuada à época, tornou-se uma aldeia fantasma debaixo de água, que agora pode ser observada à superfície. Além das casas vazias e abandonadas, em granito, é possível observar outros objetos que ficaram parados no tempo, como automóveis, roupas, brinquedos, móveis ou utensílios de trabalho deixados para trás. Existe atualmente outra aldeia de Aceredo onde habitam pouco mais de 20 habitantes.
Diabo à solta em Cidões
"Quem da Cabra comer e ao Canhoto se aquecer, um ano de muita sorte irá ter!”, o mote, “só para corajosos”, garante a organização da festa na aldeia de Cidões, concelho de Vinhais, é cumprido em mais um ritual de passagem da estação. Aqui, a noite de 31 de outubro é dedicada a trasgos, druidas e diabos, durante a Festa da Cabra e do Canhoto que promete deixar o Diabo à solta pela aldeia. Além das figuras assustadoras, há rituais próprios para cumprir e atrair a boa sorte, como o do “Pôr do Sol e Ascensão da Lua”, mas principalmente o “acendimento da fogueira gigante onde se queima o Canhoto, (Tronco e diabo)”, e, simultaneamente, “todos os nossos males, invejas, má sorte, maus olhados, etc.”; a Queimada com o esconjuro do Druída, a Queima do Bode Gigante na Fogueira do Fogo Sagrado, e ainda a luta do Druida com o Diabo. Para aquecer o corpo, há comes e bebes, entre a “cabra machorra no pote, pão e vinho da terra”, e o “café no pote com a brasa”. É ir e cumprir a tradição da festa que promete “virar a aldeia do avesso”.
A serra dos gemidos noturnos
Sabe de onde vem o nome da serra de Argemela? Segundo a lenda, a única filha de um rei godo terá sido capturada pelos mouros e aprisionada num castelo que existia no topo da montanha e depois acorrentada numa árvore do bosque. Os gemidos da princesa ouviam-se por toda a serra, mas nunca conseguiram encontrá-la. “No ar, geme ela”, terá dito o rei, cuja expressão acabou por dar nome à serra localizada junto à aldeia de Barco, na Covilhã. Nas noites de vento forte, garantem os locais, ainda hoje se ouvem os aterradores gemidos da princesa, que ecoam pelas árvores, minas, grutas e poços.
Cova do Lobisomem
No meio de um denso bosque, junto à margem do rio do Couto, há uma caverna que terá servido de abrigo a um lobisomem que habitava na localidade de Cambra de Baixo, em Vouzela, no distrito de Viseu. Reza a lenda local que em cada noite de lua cheia se ouviam “sons assustadores, uma espécie de cavalgada pesada que percorria as ruas, os caminhos e os terrenos” da aldeia. Quem seria o homem que se transformava em lobo? Ainda segundo a lenda, se o sétimo filho de uma família fosse um homem teria de se chamar Bento ou Custódio, de forma a ser protegido da maldição de se tornar meio homem, meio lobo. , que percorria a região em busca de vítimas para levar para o seu antro. A “Cova do Lobisomem” está assinalada perto da margem do Rio do Couto, junto à povoação.
O Monstro Chavelhudo da Lagoa Escura
As águas profundas e sombrias da Lagoa Escura, localizada no topo da serra da Estrela, guarda lendas, segredos e mistérios. Um deles garante que ali habita o “Monstro Chavelhudo”, que arrasta para o fundo todos os que ali ousam banhar-se. Além de relatos de quem garante já ter visto o ser monstruoso emergir da lagoa, também se diz que está ligada ao mar, o que justifica o avistamento, em noites de tempestade, de monstros marinhos e destroços de navios naufragados. A história chegou aos ouvidos do escritor de “Moby Dick”, Herman Melville, que refere mesmo na obra a Lagoa Escura, dizendo que o seu fundo “guarda as carcaças dos velhos baleeiros naufragados”, que ali terão chegado por uma “misteriosa ligação subterrânea ao mar”.
Beber o vinho dos mortos em Boticas
A história remonta a 1808, início do século XIX, durante a segunda Invasão Francesa, quando o povo da atual região de Boticas começou a enterrar os seus bens preciosos, incluindo o vinho, com medo que deles se apoderassem. Quan - do os recuperaram, perceberam que o vinho tinha ganho algum gás, graças à fermentação no chão das adegas, por baixo de pipas e lagares, e que o teor al - coólico era reduzido. Por ter sido enter - rado, este vinho regional transmontano, com território delimitado às encostas de Boticas, foi batizado como Vinho dos Mortos, e o projeto tem passado de geração em geração. A adega situa-se numa casa de 1792 e pode ser visitada por marcação, com direito a prova.
Percurso de terror em Sintra
A serra de todos os mistérios pode ser ainda mais assustadora numa caminhada noturna em noite das bruxas. É isso mesmo que se promete ao longo de cinco quilómetros de escuridão e terror nesta caminhada organizada pela Andamento. Sob o tema “O Pesadelo”, na noite de 31 de outubro “os monstros saem da floresta, fantasmas transformam-se em zombies e as terríveis bruxas amaldiçoadas bebem o sangue dos mortos”, descreve a organização que deixa ainda o aviso: o percurso “com diversos caminhos estreitos e medonhos vai ser fantasiado e transformado com diversos cenários e caraterizações para uma melhor experiência aterradora”.
Entre lendas, mezinhas e poções mágicas
É uma das mais místicas aldeias portuguesas e por isso mesmo cenário perfeito para a noite das bruxas. Em Vilar de Perdizes, concelho de Montalegre, a noite de 31 de outubro é de celebração. Pelos cafés e bares da localidade servem-se chás de ervas capazes de “curar todos os males”, sejam eles “deste ou de outro mundo”. Há jantares especiais que incluem no menu delícias como “Entranhas de gato preto” ou “Pote de bruxa fumegante” e ainda tempo para uma reunião de bruxas, trasgos e bruxos no Terreiro da Bruxaria, que se prolonga noite fora com um cortejo assombrado e a Queimada – esconjurada pelo Padre Fontes, à volta da fogueira onde se cumpre o ritual satânico do “beijo de despedida no cu do diabo”. A dança da roda continua pela noite fora. A festa é organizada pela é organizado pela Associação de Defesa do Património de Vilar de Perdizes.
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