Neste restaurante em Idanha-a-Velha pode comer como um excêntrico romano
Foto: Porta Raiana
O receituário de Marco Gávio Apício, nascido por volta de 25 a.C., serve de inspiração à Casa da Velha Fonte na Casa da Amoreira, o restaurante que habita a pequena aldeia histórica de Idanha-a-Velha.
Viajamos até à pequena aldeia histórica de Idanha-a-Velha para conhecer a excêntrica cozinha de Apício, romano que terá criado o foie gras de ganso alimentado a figos e arruinado a fortuna devido aos prazeres da mesa. Na aldeia, que já foi cidade de fundação romana (século I a.C.), inserida no território da Civitas Igaeditanorum, capital de um lugar maior do que o atual distrito de Castelo Branco, o mesmo a que pertence, encontra o restaurante da Casa da Velha Fonte na Casa da Amoreira (Rua da Amoreira, Idanha-a-Velha. Tel. 963664600), distinguido como "Mesa com Mérito", na edição 2022 do guia Boa Cama Boa Mesa.
Maria Caldeira de Sousa
A nossa anfitriã é Maria Caldeira de Sousa. Mestranda em Alimentação, Fontes, Cultura e Sociedade, é fã do gastrónomo romano Apício e ela própria gastrónoma. Ao lado do marido, Rui de Sousa, recebe com generosidade quem visita o restaurante, a mesma que os fez acreditar na cultura, história e paisagem de todo o concelho de Idanha-a-Nova.
Casa da Velha Fonte na Casa da Amoreira
A mesa do restaurante Casa da Velha Fonte na Casa da Amoreira está posta debaixo da amoreira centenária que dá nome ao restaurante. O receituário de Marco Gávio Apício, nascido por volta de 25 a.C., serve de inspiração para a confeção dos pratos aqui servidos e preparados com produtos endógenos da região com uma história intimamente coesa aos romanos. É que a aldeia ocupava posição privilegiada na via romana que ligava Emerita Augusta (Mérida) a Bracara Augusta (Braga) e com as minas de ouro de aluvião, perto das termas de Monfortinho. Visite-a e experimente o “Pato à Apício do século I a.C., com garum artesanal”. Muda um pouco consoante a estação, mas é uma criação gastronómica com as cores gulosas e quentes de uma natureza morta.
Pato à Apício
Considere “primavera, outono, inverno, ciclos, religiões, testemunhos, palavras, vozes, cânticos e sabores”, diz Maria. “2100 anos são a história da minha cozinha, divirto-me um dia com Apício e outro com um abade... vou usando as carnes mais nobres e a comida que os deuses não aceitavam para construir os seus opíparos repastos, autêntica Columella”. Maria espera os comensais para que saboreiem e ouçam o receituário que prepara diariamente.
À medida que as estações aquecem é utilizada mais fruta nos pratos. Não são frutas, mas flores na sobremesa, “Mousse de rosas inspirada no diálogo de defesa entre D.Dinis e Rainha Santa (Isabel)”.
Idanha-a-Velha
Paulo Chaves / Aldeias Históricas de Portugal
Descobrir Idanha-a-Velha
Pisar os caminhos percorridos por romanos, visigodos e templários, numa aldeia em que quase não mora ninguém, e viajar por mais de 2000 anos de história, no silêncio da noite, pontuado apenas pelos barulhos dos animais, e brindada pela luz do céu estrelado e de lanternas, é um passeio que gera sempre grande expetativa.
Idanha-a-Velha
Foto: Aldeias Históricas
“Iluminando o Passado” é, preciamente, a proposta da Porta Raiana para conhecer aquela a que o arqueólogo Félix Alves Pereira chamou de “perfeito cadáver de pedra que o tempo descarna”, Idanha-a-Velha. Foi antiga cidade de Egitânia, fundada pelos romanos. É hoje uma aldeia que se lê. Todas as pedras têm algo a “dizer”, com inscrições que se multiplicam a cada passo. O passeio começa na porta norte, junto à muralha romana.
Este texto foi adaptado do Guia Portugal Secreto – Centro, com produção Boa Cama Boa Mesa, oferecido com o Expresso na edição de 17 de junho 2022.
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