Gazeta das Caldas

Jornalistas estrangeiros dizem que potencial turístico das Caldas da Rainha tem que ser mais potenciado

5 novembro 2010 8:00

Gazeta das Caldas / Natacha Narciso

Um grupo de jornalistas da Associação de Correspondentes de Imprensa Estrangeira em Portugal veio conhecer melhor as Caldas, nos dias 23 e 24 de Outubro. O convite partiu do empreendimento de agro-turismo Casal da Eira Branca (Salir de Matos) e teve o apoio da autarquia e outros empresários caldenses.

5 novembro 2010 8:00

Gazeta das Caldas / Natacha Narciso

Os representantes de agências internacionais, jornais e rádios de Inglaterra, Brasil, Espanha, Alemanha, França, Itália, Hungria e Cabo Verde tiveram a oportunidade de conhecer as potencialidades turísticas, culturais e patrimoniais do concelho caldense tiveram opinião unânine - Caldas tem um grande potencial, mas tem que apostar na sua divulgação.

Foi com um beberete de boas-vindas na esplanada do Inatel, na Foz do Arelho, vista para a lagoa e o Atlântico, que os dez jornalistas iniciaram o seu passeio na zona. Em seguida a comitiva conheceu o projecto de Ateliers nos Silos, onde jovens criadores estão a desenvolver os seus projectos.

A visita foi guiada por Nicola Henriques, finalista da ESAD que, no final, recebeu palavras de incentivo da comitiva de jornalistas sobre este projecto que também contribui para a revitalização daquela zona.

Seguiu-se um jantar na Casa Antero, onde o grupo provou os petiscos daquela afamada casa. O serão foi passado na casa anfitriã - Casal da Eira Branca, nos Infantes - com um concerto, à luz das velas, do agrupamento Caldas Handsaw Massacre. Trata-se de um grupo que utiliza instrumentos musicais alternativos, dos quais se destaca um serrote, o qual produzia uma sonoridade que deixou os jornalistas surpresos.

O Casal da Eira Branca tinha ainda preparada uma exposição de cerâmica, pintura e escultura.

As dormidas dos jornalistas estrangeiros foram distribuídas em projectos de turismo rural da zona, incluindo o Casal Adega do Mosteiro e no Pátio do Duque, todos em Salir de Matos.

Jacinto Gameiro, proprietário do Casal da Eira Branca, já conhecia Adriana Niemeyer, a presidente da Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal. Sugeriu-lhe então esta visita pois notou que "toda a gente já tinha ouvido falar de Óbidos, mas quase nada sobre as Caldas".

Para preparar esta visita constituiu parcerias com os Silos, museus caldenses, o Maratona, a Casa Antero e a autarquia.

No dia seguinte, 24 de Outubro, a comitiva visitou a Praça da Fruta, a Igreja Nossa Senhora do Pópulo, o Hospital Termal e passou pelo Parque, tendo o grupo ficado admirado com o abandono dos Pavilhões do Parque em que vários elementos referiram que poderia ser um ex-libris da cidade e que poderia ter reconhecimento internacional.

Após o almoço no Maratona, o grupo visitou o Museu da fábrica de Faianças Bordalo Pinheiro e assistiu à inauguração da exposição de cerâmica contemporânea no Museu de Cerâmica.

"Pavilhões do Parque poderiam ser um hotel conhecido em todo o mundo"

A presidente da Associação de Correspondentes da Imprensa Estrangeira em Portugal é a brasileira Adriana Niemeyer. Antes desta visita já tinha vindo às Caldas, mas não conhecia bem a cidade.

A jornalista, de 48 anos, já viveu em cinco países, mas deixou-se impressionar "sobretudo com as pequenas coisas como este jardim do Museu de Cerâmica, a Igreja do Pópulo ou a história e o edifício do Hospital Termal. São coisas que já tínhamos ouvido falar, mas que de facto não conhecíamos", disse.

Correspondente da Globo News TV e da Rádio França Internacional, Adriana Niemeyer gostou do contacto com senhoras da Praça e de ver como os cafés estavam cheios ao sábado de manhã.

"São coisas que chamam a atenção e que passam despercebidos às pessoas que cá moram", disse, destacando a obra de Pomar no Café Central (quadro dos unicórnios inscrito na parede) e os tectos decorados de alguns estabelecimentos.

"Há aqui uma grande riqueza que tem que ser divulgada para fora. Caldas da Rainha tem sido um destino pouco conhecido apesar do seu imenso potencial. Todo o mundo vai a Óbidos e não passa por aqui".

A jornalista lamentou que os Pavilhões do Parque estivessem ao abandono pois "tenho a certeza que eles poderiam ser famosos em qualquer parte do mundo". Conhecedora de que aquele edifício tem sido alvo de debate público, acha que poderia albergar um hotel spa que mais tarde obteria reconhecimento. "Vocês têm termas, parque, mar e estão relativamente próximos de Lisbo e até de Fátima, estão de facto num lugar privilegiado", disse.

"É preciso trabalhar e mostrar Caldas ao mundo"

"Caldas da Rainha é uma grande surpresa", diz Emílio Borges, 49 anos, da Rádio Cabo Verde e gestor do jornal on-line Africanidade. Para este jornalista, a proximidade de Lisboa é uma grande vantagem para a cidade que "tem uma vida cultural intensa e que é um local que poderia ser considerado um refúgio".

Este cabo-verdiano salientou a diversidade gastronómica, o artesanato, o nome e imagem de Bordalo, o Hospital Termal e os Pavilhões do Parque como elementos muito interessantes da cidade. "Os pavilhões são um verdadeiro ex-libris e deveriam ser tratados como uma relíquia da cidade", disse.

Emídio Borges diz que as Caldas tem grandes potencialidades turísticas. "Pode ser considerada um cluster de mar, tem turismo rural e gastronomia, mas agora é preciso trabalhar e mostrar isso ao mundo", disse.

"O Cardeal Patriarca é de cá"

Riccardo Carucci, da Agencia Ansa (Itália), já se reformou apesar de ainda colaborar com aquela agencia noticiosa e com a Rádio Vaticano. Já trabalhou em Espanha, América Latina e Grécia, mas escolheu Lisboa para viver e agora para descansar.

Em 1977 visitou a cidade numa altura em que alugou um carro para dar uma volta pelo país e nunca mais esqueceu aquela paragem na Praça da Fruta onde comprou queijinhos. Mas, de facto, achava que não havia outros motivos para referir Caldas "excepto que o Cardeal Patriarca de Lisboa era de cá".

Agora ficou com uma opinião diferente depois de conhecer a sua tradição cerâmica, as termas e a história do Hospital e do Parque. Já pensa, por isso, que as Caldas da Rainha pode ser "um centro turístico interessante pois tem o mar, a parte rural, termal, a louça e um clima que parece muito agradável".

"Foi tudo uma verdadeira descoberta!"

Belén Rodrigo, do diário espanhol ABC, já conhecia muito bem Óbidos e Peniche e conta que ficou surpreendida com as Caldas porque "não sabia que a localidade tinha uma componente histórico-cultural tão grande".

Esta jornalista desconhecia a história do Hospital Termal, de Bordalo Pinheiro e do Museu de José Malhoa. "Foi tudo uma verdadeira descoberta!", disse. E perguntou: "como é que há destinos tão próximos de Lisboa que se promovem mais e há outros que estão mais escondidos?".

Em sua opinião, Caldas é um óptimo destino para passar um fim de semana pois "a gastronomia também é fantástica e deu para ver que há muita vida, muito comércio e é também um óptimo destino para desfrutar com a família".

Correspondentes queixam-se do acesso às fontes

Adriana Niemeyer trabalha há cinco anos em Portugal e considera que "o acesso às fontes é tão complicado para os jornalistas estrangeiros como para os portugueses", disse. Mas ser correspondente estrangeiro "às vezes até é pior pois têm muito medo e receiam dar uma má imagem para o exterior".

A correspondente referiu que em Portugal os assessores de imprensa "são uma barreira", ao contrário do Brasil onde são facilitadores do contacto. Lamenta que assim seja, que haja tantos entraves e tanta lentidão na obtenção das respostas. Apesar da ditadura já ter terminado há 35 anos, esta profissional constata que ainda há medo de falar em Portugal.

Respostas que tardam em chegar

Riccardo Carucci já fez 70 anos e conta que acompanhou as primeiras eleições pós-25 de Abril em 1975 e em 1976 numa época em que não havia projecções e se passavam "noites inteiras à espera dos resultados na Gulbenkian".

Naquela época, recorda, "havia um grande interesse pela imprensa estrangeira em Portugal e vice-versa. Hoje já não é assim", comentou. "Hoje para um jornal italiano se interessar por Portugal é preciso que seja algo realmente importante".

O acesso às fontes para este jornalista "não era um problema de maior, mas não havia internet e o que antes era mais difícil era superado por um grande desejo de falar e até mesmo órgãos como a polícia funcionavam melhor do que agora". Queixa-se principalmente de que as respostas demoram muito tempo a chegar.

Riccardo Carucci  referiu ainda que um estudo internacional recente relativo à liberdade de imprensa coloca Portugal em 40º lugar, "atrás da Espanha, mas à frente da França e de Itália".

"Com Mourinho e Ronaldo há sempre matéria"

A correspondente do ABC, Belén Rodrigo, trabalha em Portugal há nove anos e diz que no acesso às fontes tem encontrado dois tipos de atitude: "há coisas que são muito mais acessíveis do que para os portugueses pois quando falamos com alguém não é para falar de problemas nacionais". A atitude dos assessores de imprensa é que é motivo de alguma incompreensão: "não querer facilitar o acesso é não nos deixar dar a conhecer o país lá fora". Na opinião de Belén Rodrigo, há uma enorme lentidão em obter as respostas "e como trabalho num diário, muitas vezes acabo por desistir de fazer alguns artigos". Noutros casos são surpreendidos pois "só o facto de ser estrangeiro facilita-nos muito as coisas".

A jornalista diz que normalmente os temas que em Portugal são notícia no dia a dia "não são interessantes para os jornais em Espanha". Como tal, ser correspondente significa ter "que lutar por espaço entre as notícias do teu país e as do resto do mundo". Belén Rodrigo considera que o tema internacional é difícil ganhar espaço, tirando nas épocas de eleições. "Todos gostaríamos de ter mais visibilidade...", disse acrescentando Portugal tem ganho mais visibilidade em Espanha graças a Mourinho e Ronaldo, sobre os quais há sempre matéria.