24 novembro 2009 17:47
Apertar o cinto, trabalhar mais, sair mais tarde. Estas são expressões do mundo laboral actual, mas será que todos os gestores se esqueceram das Pessoas (sim, com P maiúsculo)?
24 novembro 2009 17:47
Na conjuntura económica em que vivemos são poucas as empresas que se preocupam com o equilíbrio carreira-família. Diria mesmo que são raras as organizações que o fazem ou que têm discursos semelhantes ao de Fernando Mendes, presidente da Legrand.
Com equipas esmagadas, pelos sucessivos processos de downsizing dos últimos anos, e com objectivos cada vez mais difíceis de cumprir, a mão-de-obra tende muitas vezes a ser tratada como carne para canhão. "Despedimento" tornou-se uma palavra comum. Ouvimos todos os dias nos jornais, na rádio e na TV. Nos últimos dias tem vindo ainda mais à baila, colada às notícias sobre os preocupantes números do desemprego, que bateram todos os recordes em Portugal.
Recentemente, numa visita guiada pelo presidente da Legrand foi possível constatar que, apesar do despedimento de 77 pessoas em Junho último, os colaboradores que ficaram estão coesos, empenhados e produtivos. Claro que muitos não compreendem a palavra "despedimento", mas quando ela se torna sinónimo de sobrevivência para muitas empresas nacionais ou multinacionais...não há volta a dar.
Cuidar dos que ficam e motivá-los deve ser o passo seguinte a dar pelos gestores de topo. Ajudar a gerir a ansiedade e o stress, mantendo o equilíbrio carreira-família é uma missão. Fernando Mendes sabe que ser um bom líder também passa por aí.
"Se vejo um colaborador que fica, muitas vezes, até às 21 horas no trabalho considero que algo está errado, com o colaborador ou com a empresa. Como é que uma pessoa pode trabalhar bem se não pode dar o apoio que deve à família? Se as pessoas trabalharem de forma organizada, então sabem utilizar bem os seus minutos. Além disso, devem contar com o apoio dos chefes caso precisem de ajuda. Ter problemas em casa para resolver não contribui para a felicidade de ninguém."
Revela ainda: "Eu próprio, pelo facto de ser líder em tempo de crise, não mudei a minha vida. Passei foi a alterar algumas prioridades que são: adaptar a capacidade da fábrica às encomendas e fazer com que a empresa responda melhor à crise em que estamos a viver. É uma questão de foco. As empresas não podem pedir aos líderes que se mantenham mais tempo no trabalho."
Fernando Mendes, engenheiro Electrotécnico de 57 anos, lidera a fábrica de materiais eléctricos que tem hoje 320 funcionários, em que mais de 60% são mulheres, sedeada em 6 hectares em Carcavelos. A unidade atingiu o pico de exportações em 2007, vendendo 49 milhões de euros no estrangeiro, mas em 2008 registou uma quebra de aproximadamente 14%. Mas as leis da economia não lhe retiraram a sensibilidade para os recursos humanos.
(Leia mais na edição da Exame que chega esta quinta-feira às bancas).