&conomia à 3ª

Minorias ao poder?

3 junho 2014 7:00

3 junho 2014 7:00

A abstenção foi novamente, e sem surpresa, a grande vencedora das recentes eleições europeias, batendo recordes em todas as velhas e novas democracias da Europa. Opinião pública e publicada é unânime em apontar as causas para tal abstracção dos povos europeus em relação ao seu presente e futuro. Desde o descontentamento com os políticos, com o seu carácter ou falta dele, com as suas políticas, com a crise económica e financeira, com as más condições de vida e com tudo de mau nas suas vidas. Infelizmente nada de novo do lado das causas.

Só que desta vez é diferente. Desta vez há consequências!

E não se trata do normal e usual aproveitamento político por parte dos eurocépticos que se limitam a cavalgar na abstenção, fingindo que a abstracção dos povos em relação à Europa significa que estes estão contra a Europa e querem o seu desmembramento. A elevada abstenção não significa apoio aos eurocépticos, representa sim que os povos europeus estão descontentes com o rumo e (in)acção desta Europa, bem como estão frustados com o facto da Europa afinal não ser a solução para todos os males que nos afligem! Ao contrário do que lhes foi vendido até agora.

Em vez de adoptarem a abstenção como votos seus, os eurocépticos de cada país deviam criar um partido e ir a eleições como o UKIP fez no Reino Unido, com grande sucesso ao vencer as eleições com cerca de 27% no país que sempre esteve com um pé fora da Europa. Aqui a abstenção foi cerca de 66%, ganhando largamente aos eurocépticos e significando que apesar de ser o único partido a ganhar aos 2 principais partidos ingleses (Conservador e Trabalhista) nos últimos 110 anos, o UKIP apenas representa cerca de 9% dos eleitores!

E as consequências podem ser graves...

Historicamente, é nestes tempos de crise regional que os movimentos mais extremistas aproveitam o descontentamento dos povos para proliferarem e se alimentarem da falta de alternativas em democracia. E a abstenção é o ingrediente principal destes banquetes históricos. Considerando que não existe abstenção neste tipo de partidos políticos extremistas, a sua relevância surge não pelo número de eleitores apoiantes da causa, mas sim pela abstracção dos eleitores dos partidos moderados. Assim, em vez de aceitarmos ser governados pela maioria, apanágio da democracia que está longe de ser perfeito, temos que nos subjugar à vontade de uma minoria que se alimentou da abstenção. É o que acontece quando deixamos os outros decidirem por nós.

Devemos aprender não só com os nossos erros, mas principalmente com os erros dos outros! O que nos vale é que desta vez as consequências dos nossos erros serão piores para a Europa, enquanto instituição, do que para os países individualmente, para já. E por isso a Europa, as suas instituições, líderes e principais famílias políticas já perceberam que terão que mudar a Europa e virá-la para os povos, antes que os povos se virem contra a Europa. Por acção (votos) ou por inacção (abstenção), permitindo às minorias sobreporem-se à maioria!

Desta vez foi na Europa, mas para a próxima pode ser nos países europeus através de eleições legislativas. Por isso, não só é preciso ter cuidado com o que se deseja como também com a forma como se expressa esse desejo, porque pode vir a tornar-se realidade. Nestes tempos difíceis, mais vale votar no menos mau do que ser governado pelo pior, eleito pela abstenção!