24 maio 2011 13:00
24 maio 2011 13:00
Com as comemorações do 25 de abril voltaram novamente as canções de intervenção, as antigas e as recentes. E ultimamente, estas têm estado bastante na moda. Foram mote até da manifestação da "Geração à rasca" que, para muitos, poderia ter sido o início de uma nova revolução dos cravos.
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Dada a minha condição de estudante, houve uma frase, da música Parva que sou da banda Deolinda, que me ficou e que me chateou durante algum tempo - "E fico a pensar, que? mundo tão parvo onde para ser escravo é preciso estudar". Sem refletir profundamente, numa primeira fase concordei. Sei que há precariedade, já que o sistema de emprego se adaptou através de mecanismos "mais ou menos legais" como os contratos a termo certo e os recibos verdes. Há o que designei, no meu pensamento, de "escravidão do século XXI". E neste ponto considero que os decisores políticos deviam deixar a popularidade de lado e unir esforços para corrigir erros e não os repetir.
No entanto, depois de entranhar esta frase percebi que também vou de encontro com ela. Considero que qualquer profissão é digna e precisa na nossa sociedade (por exemplo, imagine-se como seriam as nossas ruas se não houvesse "varredores de lixo"). O que tem acontecido é uma distorção nesta simples premissa de que tudo é importante. Concordo que não é justo um licenciado não trabalhar na sua área e estar, por exemplo, numa caixa de um supermercado; mas não concordo que isso seja considerado por muitos uma condição indigna. A verdade é que a quase absoluta absorção (nas três últimas décadas do século passado) de licenciados quer pela entidade pública quer pela privada está longe de se voltar a repetir. Há que perceber que as oportunidades que vão aparecendo devem ser aproveitadas, sem nunca desistir de alcançar o que concretiza cada indivíduo. Estar em casa sem produzir não é útil e atrasa cada vez mais o nosso país. Penso que não são necessários mais "parasitas".
Para além desta frase, assombrou-me e entristeceu-me perceber a diferença entre "geração à rasca" e "geração rasca" (como é que a simples palavrinha "à" pode fazer tanta diferença na perceção de um significado). Também numa primeira fase concordei que pertencia a uma "geração à rasca". Contudo, agora acredito que cada vez mais a minha geração pode ser apelidada de "geração rasca". Ora, desde miúdos os nossos pais nos deram tudo sem pensarem nas consequências que isso poderia ter para o nosso futuro. Privados de mordomias do pré-25 de abril, quiseram dar aos filhos e filhas vidas de príncipes e princesas. Vivemos nesta ilusão de que tudo é fácil desde há muito tempo. Os nossos pais trabalham, fazem sacrifícios e pagam-nos jantares, idas ao cinema, viagens com amigos e oferecem-nos um carro mal se tire a carta... Que maravilha: não fazer nada e ter tudo de mão beijada. Temos uma vida descansada e gostamos muito do nosso "umbigo" e da nossa zona de conforto.
Acontece que este reino pode desmoronar-se, já que não há castelos perfeitos na segurança e proteção dos invasores. Há um dia em que os príncipes e as princesas têm que olhar de frente para o "inimigo". E o "inimigo" pode ser o mercado de trabalho. Darwin afirma que apenas os aptos sobrevivem, logo, é necessária uma grande capacidade de adaptação e permeabilidade para ultrapassar estes "inimigos". E este é um outro ponto que faz a minha geração "rasca". Claro está, que há exceções, e estas são aqueles que têm uma perceção do futuro, têm capacidade de reação e nunca se dão por vencidos.
Por último, tenho reparado que muita gente anda adormecida, não vê os dois lados de uma problemática e a atualidade é para elas um mero sonho, mas a verdade é que ela é real (bem real). Neste sentido, a meu ver, é necessário que Portugal acorde e enfrente o que aí vem. E este "acordar" incita a nossa capacidade de ação. Não podemos desistir, nem baixar os braços. Não podemos adoptar uma filosofia de acomodação, mas sim uma filosofia de pró-actividade. Temos que ousar sonhar e querer contribuir para o crescimento da nossa economia, mesmo sabendo que os erros crassos do passado demorarão a ser pagos.
"Liberdade pode ser prisão... / Meu Deus, livra-nos do mal / e acorda Portugal.."