O Vento nas Velas

Imagens do Japão

11 maio 2011 10:00

Paulo Carmo

Todos os dias de manhã, numa televisão do mundo ocidental, durante a programação infantil, é possível encontrar imagens oriundas do Japão.

11 maio 2011 10:00

Paulo Carmo

A indústria de desenhos animados japoneses, na sua diversidade, exerce, assim, uma subtil e quase despercebida influência na cultura popular do Ocidente. Nem sempre foi assim.

Em dois momentos distintos a presença das imagens nipónicas foi importante para a compreensão mútua. As primeiras imagens que chegaram à Europa vindas do longínquo Japão interessaram logo aos autores da sofisticada cultura Europeia do século XIX. Eram as imagens do "mundo flutuante", as ukiyo-e produzidas em formas de múltiplos. Estampas que eram avidamente coleccionadas por nomes ligados ao movimento Impressionista, como Monet. Mas também Bonnard ou Toulouse-Lautrec, o holandês Van Gogh, o austríaco Klimt ou o inglês Whistler, entre outros, fizeram citações directas nos seus quadros às estampas japonesas.

Mas também se pode perceber a influência destas estampas no famoso "Madame Chrysanthème", de Pierre Loti (1850-1923), que estaria na origem da conhecida ópera "Madame Butterfly". Ou na poesia de Baudelaire, espelhada no conhecido verso "lá, tout n'est qu'ordre et beauté/luxe, calme et volupté". Ou ainda na música de Debussy "O mar", de 1905, inspirada na estampa de Hokusai "Sob a vaga em Kanagawa", que depois, reproduzida até à exaustão, se poderia ver em grafitos nos muros das cidades do mundo ocidental.

Mais tarde, nos anos 60 e 70 do século XX, o trabalho de divulgação da crítica francesa abriu as portas ao sucesso comercial dos filmes japoneses no Ocidente. As obras de autores tão diversos como Mizoguchi ou Kurosawa revelaram, com sensibilidades diversas, o mundo japonês aos estrangeiros. Depois viria o controverso sucesso dos filmes de Imamura, com temas e problemas contemporâneos, ou de Nagisa Oshima, que mostraram um género que já estava presente nas estampas conhecidas dos Europeus através das chamadas shunga - imagens da Primavera. Seria preciso, no entanto, esperar pela divulgação internacional da obra de Yasujiro Ozu (1902-1963), o que em Portugal só aconteceu pela primeira vez em 1980, para se descobrir o mais insistente cronista da sociedade, dos costumes e da moral japoneses. O seu olhar sobre a vida do Japão inclui detalhes, pausas e hábitos quotidianos que mergulham directamente sobre a célula familiar, a ponto de ser, pelos próprios japoneses, considerado "demasiado japonês"" para o gosto e compreensão de audiências internacionais. E, de facto, Ozu permanece ignorado do grande público a quem os filmes de Hollywood, seguindo um género próprio do Japão, continuam a salientar a imagem mais espectacular da vida nipónica ligada à máfia local, a yakusa, um dos nomes de origem nipónica que já fazem parte da cultura popular internacional, juntamente com outros como, harakiri, kamikase, tamagochi oukaraoke.

Paulo Carmo é investigador nas áreas da Cultura e Civilização Chinesa e Japonesa. Autor de diversas publicações, incluindo várias entradas no Dicionário de História de Macau e na imprensa de Lisboa e de Macau. Foi colaborador da revista "Macau", entre 1992 e 2004.

Excerto de texto publicado na edição de 2009 da revista Janus.





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