O Vento nas Velas

As visitas dos Japoneses à Europa

20 setembro 2010 11:20

Ana Maria Ramalho Proserpio

Gravura italiana, datada do século XVI, com a representação dos quatro emissários japoneses

Foi no ano de 1584 que chegaram à Europa os primeiros japoneses. Vieram pelas mãos dos missionários que estavam no Japão e com esta embaixada pretendia-se chamar a atenção das cortes europeias e, em particular, do Papa, para o arquipélago do Sol Nascente.

20 setembro 2010 11:20

Ana Maria Ramalho Proserpio

Os quatro jovens japoneses - Mancio Ito, Miguel Chijiwa, Martinho Hara e Julião Nakaura - foram escolhidos nas famílias nobres dos Senhores de Arima, Omura e Bungo (daímios de Kyushu). Partiram de Nagasaqui, em Fevereiro de 1582, e chegaram a Lisboa, em Agosto de 1584. Visitaram em Portugal as vilas de Évora (e a sua Universidade) e Vila Viçosa, seguindo depois para Madrid onde se encontraram no Escorial com Filipe II de Espanha, primeiro de Portugal. Foram depois para Roma, onde prestaram homenagem ao Papa, assistindo posteriormente à eleição de um novo Papa, Sisto V, por morte de Gregório XIII.

Sempre com grande sucesso, até por causa das diferenças das suas feições e dos seus hábitos, deram uma volta pelo Norte de Itália, visitando as cidades de Bolonha, Veneza e Milão, regressando à Península Ibérica onde, depois de nova audiência com o rei, voltam a Portugal e conhecem Coimbra.

Eram, como escreveu o missionário italiano Alexandre Valignano, "uma carta viva do Japão". A sua vinda à Europa teve um impacto bem maior do que as cartas ânuas que os missionários todos os anos enviavam do Japão a relatar o que por lá se fazia. Não é por acaso que, em 1588, Roma decide criar a primeira diocese Japonesa, com sede em Funai.

Em 1590, regressam ao Japão, trazendo vários presentes, entre os quais destacamos um parque tipográfico de caracteres móveis, introduzindo-se, assim, a Imprensa no Japão.

Temos notícias de uma outra embaixada, no século XVII, desta feita, do Samurai Hasekura Rokuemon Tsunenaga que, fazendo o trajecto do Japão para a Europa, via Índias Ocidentais, em vez das Orientais (como tinha sido a outra embaixada), chegou a Sevilha, em Outubro de 1614. Foi recebido pelo rei Filipe III, segundo de Portugal, em Madrid, seguindo depois para Itália. Uma tempestade fá-lo escalar em Saint-Tropez (França), chegando finalmente a Roma onde foi ouvido pelo Papa Paulo V. De regresso a Espanha é, novamente, recebido pelo rei e parte, dois anos depois, em Junho de 1617, para o México.

Estas duas embaixadas foram, para a época, feitos extraordinários, e só tiveram continuidade dois séculos depois, no século XIX, com a realização da embaixada de 1862, liderada por Shibata Sadataro. Até lá o Japão fechou-se sobre si próprio.





Coordenação



Cristina Castel-Branco e João Paulo Oliveira e Costa



Assistência Tecnica



Inês Pinto Coelho e Margarida Paes



Colaboradores



Alexandra Curvelo, Ana Fernandes Pinto, Leonilda Alfarrobinha, Pedro Canavarro, Ayano Shinzato D. Pereira, Alberto Vaz da Silva, Ana Maria Ramalho Proserpio, Alexandre Pereira