18 outubro 2009 9:00
18 outubro 2009 9:00
Era a época de todas as greves, a que a Revolução de Abril abriu portas. Uma das mais difíceis foi a que os padeiros levaram a cabo durante uma semana, em Outubro de 1976.
As razões do conflito eram os habituais problemas salariais e também divergências em relação aos horários - os padeiros não queriam o horário nocturno e os patrões queriam impor-lhes o horário livre. Apesar da mediação de Marcelo Curto, ministro do Trabalho do Governo socialista de então, as duas partes não se entendiam, e rapidamente as posições se extremaram, levando à greve.
O pão começou a escassear por todo o país, pois a adesão à greve foi quase total. Formavam-se extensas filas à porta das padarias, e a inevitável especulação surgiu, com os açambarcadores a ajudar ao clima de grande tensão. O pouco pão que aparecia, fabricado pelos pequenos proprietários de padarias, logo desaparecia como por milagre. A Norte, no Porto, em Braga e em Viana do Castelo, a situação de desespero só era minimizada pela pequena quantidade de pão produzida pelos lavradores.
Apenas em Bragança, a greve não se realizou, pois os industriais diziam: "Nós não vamos em conversa!" Em Lisboa, na Travessa da Boa-Hora, dois jovens de 17 anos foram apanhados a roubar um saco com 159 pães. Um furto oportuno, diga-se, pois a fome era negra.
Texto publicado na edição do Expresso de 17 de Outubro de 2009
