Politicoesfera

O Rio que Passos Coelho não pára!

29 novembro 2013 7:38

João Lemos Esteves

29 novembro 2013 7:38

João Lemos Esteves

Dizem que Passos Coelho só tem defeitos: a sua governação tem sido tão negativa que é impossível encontrar qualquer virtude política no Primeiro-Ministro. Eu discordo: Passos Coelho tem uma grande qualidade, que, por vezes, passa demasiado despercebida aos analistas políticos e aos cidadãos em geral. Sabe, melhor do que ninguém, os golpes palacianos do poder, como fazer os joguinhos político-partidários, com base nos quais construiu a sua carreira política: veja-se o recente convite do Governo a Rui Rio para presidir ao Banco de Fomento que será criado para gerir os fundos comunitários (aquela ideia patrocinada por Angela Merkel: recordam-se?). Que Rui Rio é um economista de grande prestígio, é inegável. Que Rui Rio tem qualidades inequívocas de liderança política e gestão financeira, parece irrefutável. Mas o convite de Passos Coelho nada tem que ver com o mérito pessoal de Rui Rio. Tratou-se de uma pura jogada politiqueira. Porquê?

Em primeiro lugar, Passos Coelho tentou saber qual o posicionamento de Rui Rio, a pouco mais de dois meses das eleições directas no PSD. Isto é, se Rui Rio aceitasse o convite, Passos Coelho apareceria ao lado do ex-Presidente do Porto na fotografia, mostrando que é incontestado e incontestável no PSD. E que a sua política merece o aplauso generalizado dos "reformadores" contra os "velhos do Restelo" (expressões mais salientes da nova narrativa governamental). Ou seja, Passos Coelho achava que se Rui Rio aceitasse o convite, daria um sinal implícito de apoio, o que seria um trunfo de peso. Mais importante do que executar o Orçamento com competência ou começar a implantar uma verdadeira reforma do Estado, Passos Coelho acha que a sua política depende do apoio dos "notáveis". E Rui Rio, muito mais esperto, experiente e lúcido que Passos Coelho, percebeu o filme e recusou o convite. E bem: o seu espaço de actuação seria reduzidíssimo e serviria apenas para os objectivos da propaganda do Governo. Enfim, este episódio mostra bem como Passos Coelho governa Portugal exactamente da mesma forma como liderou a JSD, noutros tempos. Para ele, a política resume-se a isto: podemos "comprar" quem quisermos, podemos "comprar" os nossos adversários políticos com cargos e lugarzinhos; e só isso é que releva. Nada mais.

Em segundo lugar, a recusa de Rui Rio ao convite de Passos Coelho servirá para o Primeiro-Ministro vir agora atacar aqueles militantes que, num momento decisivo, em vez de apoiarem o Governo, decidiram virar a cara ao desafio. Esses, como Rui Rio, são cobardes; o Governo é de uma coragem acima da média, acima do humanamente alcançável, acima das misérias do "género humano"! Aposto que, mais tarde ou mais cedo, Passos Coelho irá aparecer com este discurso como forma de se desculpabilizar pelos seus falhanços à frente de Portugal, por um lado, e responsabilizar as vozes críticas existentes no PSD, por outro.

Palavras para quê? Passos Coelho não muda....

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