Fez-se passar por padre, assaltou a casa de um corrupto. Queria as 'pen drives'

É uma história estranha e interessante dentro de outra que sem ser tão estranha é muito mais interessante. Enrique O.G., um homem de 65 anos que diz sofrer de distúrbios mentais (pelo menos um pouco, alega o seu advogado), o ano passado fez-se passar por padre e conseguiu entrar na casa de Luis Barcenas, o famoso ex-tesoureiro do Partido Popular espanhol, hoje caído em desgraça. Enrique queria informação, ao que parece.

Uma vez dentro da casa, sequestrou a mulher de Barcenas, um filho do casal e a empregada doméstica. Ainda hoje eles têm dificuldade em o olhar de frente, mesmo no tribunal. Apenas um de muitos traumas que sofreram nos últimos anos, dado que Barcenas se encontra preso, acusado por vários delitos relacionados com financiamento partidário ilegal, corrupção em obras públicas, matérias fiscais...

O ex-tesoureiro tem contado muito

Para conseguir atenuantes no seu próprio caso, Barcenas vem contando coisas sobre o saco azul do PP, as verbas secretas pagas aos dirigentes, etc. Os quais negam tudo, naturalmente. Mas o assunto tem sido um desgaste contínuo (para eles) e uma fonte de surpresas (para o público). Digamos suavemente que a impressão deixada sobre o partido - e sobre políticos em geral - é bastante má.

Enrique O.G., durante o assalto, exigiu as 'pen drives' e os discos duros com a informação de Barcenas sobre o PP. Nada conseguiu, pois acabou por ser fisicamente dominado e preso. No tribunal tentaria desculpar-se com um nível de doença mental quase vizinho da esquizofrenia, o que não corresponderá exactamente à verdade. Pelos vistos, no seminário não lhe ensinaram como é feito mentir. 

Com três delitos de sequestro, mais outros tantos de ameaça e ainda outros de agressão e invasão de domicílio, a pena agora decretada foi de 22 anos, dos quais o falso padre cumprirá, no máximo, dezoito. Para as vítimas os efeitos também não acabam num dia.