4 maio 2012 2:29
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O 1º de Maio não foi um bom dia para lançar a campanha dos 50% do Pingo Doce, admito. O Dia do Trabalhador foi conquista da modernidade e da dignificação da condição humana e do seu trabalho. Devia ser um dia de celebração e de reivindicação de mais direitos, melhores condições de vida e de justiça social. Mas será que podíamos esperar massas populares na rua num país onde nos dias de eleições uma percentagem considerável prefere ir à praia em vez de ir votar?
É preciso admitir que essa atitude negligencial resulta talvez, do facto de estarmos todos fartos de trabalhar para sermos sempre enganados e roubados pelos políticos que nos representam e que estamos perante a total apatia politica e descrédito sobre a possibilidade de mudança. Acrescido a este, o facto de termos de pagar hoje 3 vezes mais do que pagávamos há dois anos atrás, pelos mesmos produtos que consumimos, pode levar a que sintamos que não haja mais energia para lutar por coisa alguma, a não ser por exemplo, pela oportunidade de pagar metade do preço daquilo que nos custa tanto trabalho e esforço para conseguir, mesmo que em dia de descanso tenhamos que trabalhar. Sim, porque vi muitas famílias com filhos, cansados e preocupados com a escola do dia seguinte, a ter de esperar horas para poder satisfazer as necessidades básicas a metado do preço.
Pessoalmente, cheguei tarde e as prateleiras estavam vazias. Mesmo assim, consegui alguns produtos que consumo e aproveitei para estudar o fenómeno que já tinha visto nos dias 26 de Dezembro, nas ruas principais de Londres e nas filas à porta da famosa Harrod's, mas nunca em Portugal, embora já tivesse ouvido falar da BlackFriday no Corte Inglés, ou das campanhas de brinquedos a 50% em vésperas de Natal no Continente que em termos de comportamentos tem semelhanças com o que assisti no dia 1.
Nesta matéria do trabalho estou muito à-vontade para falar. Fiz os meus estudos superiores procurando e obtendo bolsas de estudo de instituições nacionais e estrangeiras. Aprendi cedo que 'não há almoços grátis'. Para as conseguir tive de mostrar trabalho e de elevada qualidade. Trabalhei sempre e muito. Quando regressei a Portugal depois de vários anos de investigação em estudos académicos numa das melhores universidades do mundo, fui dar aulas para uma universidade privada. Nas do estado nunca houve lugar para mim; estavam ocupados por professores que ensinavam o que eu tinha estudado sem terem eles tido nenhum tipo de formação na matéria! Leia-se Islão e sociedades muçulmanas.
Há dias tomei conhecimento de que deixei de ter médica de familia no centro de saúde local e que não vou ter outra nunca mais. Ainda bem que tenho condições para pagar um seguro de saúde privado. De outra forma, não saberia como recorrer a bens básicos para os quais contribuo com todos os impostos que pago.
Resumindo, tudo o que tenho e que consegui juntar, seja em matéria de saber, de ser, e de ter, fiz com muito esforço e muito trabalho e sem benesses do Estado a quem pago tudo, como dever de cidadania.
Num dia do trabalhador, ou noutro dia qualquer, e sempre que puder poupar e ajudar a minimizar o esforço e o sofrimento de viver uma vida de trabalho dificil, raramente paga, não me importarei de trabalhar no Dia do Trabalhador, ou noutro dia qualquer, mesmo de festividade religiosa muçulmana, como de resto fiz sempre que foi preciso.
Não gosto de fundamentalismos de tipo algum, nem politicos, nem religiosos, nem de qualquer outro tipo. Respeito a história e as religiões, as ideologias e ideais, desde que eles sirvam para a dignificação da condição humana. Sempre que falharem nesta condição, deixam de fazer parte do que valorizo.
O Pingo Doce não retirou os trabalhadores das marchas do 1º de Maio; eles não iriam de qualquer maneira. Os que foram às compras foram buscar o que não é nem promessa, nem utopia. Não foram atrás de palavras ou ideias. Já devem ter feito muito pela causa e nunca nada de jeito lhes aconteceu. Apetrechar a dispensa com o que é básico para a subsistência, é real e necessário, e esse foi o dia em que puderam fazê-lo, e garanto-vos que não pareciam estar a festejar. O que é também trágico neste país.
No entanto, se realmente existir pudor e preocupação sobre 'dumpings' e problemas de exploração do trabalho humano então precisamos de rever muito mais que o Pingo Doce. Precisamos de não permitir que se consumam produtos indianos e chineses, feitos a partir de exploração de mão de obra infantil, ou que empresários chineses controlem a EDP, quando nas suas terras os direitos, liberdades e garantias não são de forma alguma respeitados. Precisamos de rever também como pudémos vender o país, a preço de saldos, à Troika, e sempre em dias de feriado importantes, como por exemplo o do dia 10 de Junho! A ASAE devia verificar 'dumpings' e ilegalidades nesta matéria também.