28 abril 2012 0:10
28 abril 2012 0:10
Hesitei muito antes de escrever este texto. Hesitei por entender que as minhas palavras são demasiado pequenas e simples para falar de um homem grande como tu, Miguel. Já muitos te homenagearam e contaram várias coisas sobre ti. Umas conhecia, outras não. Esses são homens e mulheres que fizeram e fazem, como tu, muito pela sociedade portuguesa e europeia. Eu não fiz ainda o que tenho de fazer. A coragem que tive para hoje, finalmente, escrever a minha homenagem a ti, resulta de, em todas as outras, ter re-encontrado o Miguel que foi também meu amigo e companheiro de conferências e debates. E, conhecendo como te conhecia, sei que acharias bem que deixasse, em tua memória, também a minha voz. Foi pela voz e pela palavra que lutaste sempre. Acho que terás gosto em saber que tenho grande orgulho em ser conhecida como 'une musulmane de gauche'!
Da última vez que estivémos juntos, perguntaste-me se tinha lido o teu Périplo. 'Como não leste? Tens de ler e tens de me dizer o que achas.'
Nessa noite em que nos re-encontrámos, na cumplicidade de mais uma luta política tua, e uma das minhas primeiras como debutante nestas matérias, perante o resultado de perda colocaste o teu braço grande e firme sobre os meus ombros e perguntaste-me porque estava triste. Com aquele teu sorriso único disseste: 'Não fiques triste, Faranaz. Olha para mim, já perdi tantas vezes, e continuo sorrindo'.
Ainda não li o Périplo, Miguel. Assim que o ler, logo te direi o que penso. E sei que desse outro lado, vais continuar sorrindo e o teu braço estará sobre os meus ombros, sobretudo quando sentir que perdi. E vou sorrir.
Até sempre, querido Amigo.