2 novembro 2011 9:45
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Contam-me que num desses concursos televisivos, decorrentes em meio concentracionário, ao ser posta perante a necessidade de nomear a capital de Espanha, uma das jovens participantes, porventura expedita em várias outras matérias, ficaria queda e muda como um penedo. Esforçando-se por a socorrer, com a ajuda possível avançaria então o interrogante com a repetição da primeira sílaba, "Ma, Ma, Ma", da palavra certa e misteriosíssima, o que logo a interpelada aproveitaria para declarar afoitamente, "Marcelona!" Não terá ela expelido o interessante vocábulo com a pujança de voz que Montserrat Caballé e Freddie Mercury utilizaram no seu hino à cidade condal, mas ainda assim não desistiria, intrépida rapariga, de tentar a sua sorte.
Esta simbiose, sintetizada num novo topónimo, "Marcelona", parecendo configurar o onomástico de uma patroa de bordel, bem provida de carnes, e achacada a rimas perigosíssimas, propiciará talvez uma cadeia de ficções, articulada a partir do consórcio de duas metrópoles, Madrid e Barcelona, em extremo díspares, e nem sequer complementares. A essa luz habitariam tal urbe cidadãos que se entenderiam numa língua monstruosa, o "castelão", misto de "castelhano" e "catalão", que horrendamente temperariam as tradicionais tripas, os "callos", com o não menos tradicional molho de mayonnaise e alho, o "alioli", e que dançariam ao estrídulo som de uma forma musical aberrante, a "zarzana", efeito do engaste na "zarzuela" dos compassos da "sardana". E desta maneira se tornaria fácil, em consequência da frutuosa simplicidade da mocita em competição, fundar um magnífico lugar do espírito, concebido na linha de outros célebres, a Cidade do Sol, de Tommaso Campanella, a Utopia, de Thomas More, e até mesmo a Cidade de Deus, de Santo Agostinho.
É portanto com um anteprojecto de semelhante aglomerado humano que avançamos aqui, entregando-o sem qualquer contraprestação a quem possua unhas para convenientemente o cumprir. E que espantosas virtualidades não cabem afinal na ignorância desta juventude de oiro, para cujo diligente talento ajudamos a pagar os nove anos de escolaridade obrigatória!