6 junho 2013 8:00
6 junho 2013 8:00
Os que nasceram entre o final da década de setenta e o princípio da década de oitenta sabem que um dos jogos estudantis preferidos no ensino preparatório era o exercício de levar alguém "ao poste". Dois ou três marmelos agarravam num desgraçado qualquer, afastavam-lhe as pernitas e levantavam-no no ar. Normalmente a vitima escolhida ainda esperneava, suplicando que parassem, mas acabava por chorar ou rir ( ou as duas coisas ao mesmo tempo) ao embater finalmente no "poste" repetidamente com as partes baixas. Entre avanços e recuos devidamente coreografados e cronometrados pelas vozes em coro "1,2,3.." e lá ia novamente a presa visitar postes de iluminação, sinais de trânsito, corrimões de escada ou qualquer outra superfície capaz de produzir o efeito pretendido. Fui vitima e fui carrasco. Não me posso queixar.
Se para muitos esta prática pouco ortodoxa representava uma espécie de baptismo, para outros não passava de uma forma de passar o tempo (o conceito de Bullying ainda não estava enraizado em Portugal na altura). Numa época em que os ZX Spectrum ficavam em casa (de bolso só mesmo os cromos e os berlindes), sem telemóveis ou leitores de Mp3 para nos distrairmos, aparentemente a melhor forma de o relógio digital Casio andar uns minutos para a frente era torturar os genitais alheios. E não se pense que existia uma razão especial para o fazer. Não. Éramos crianças. Podia ser qualquer coisa. O tema era livre. O pretexto era fútil e desprovido de nexo. Ter sido o último a chegar ao campo de jogos ou o primeiro a chegar à cantina era condição mais do que suficiente para levar alguém ao poste. Nem a lembrança, por parte da vitima, de que tinha ido ao poste no dia anterior, servia para controlar um bando em fúria. A compaixão e misericórdia são traços que nem sempre caracterizam a canalhada.
Ora compaixão é coisa que não tenho pelo senhor ministro das Finanças. Nenhuma. E menos ainda depois daquela conversa do benfiquista cabisbaixo a pedir batatinhas. Quer-me parecer que o ministro Vítor Gaspar, em toda a sua actuação, não tem manifestado qualquer preocupação, misericórdia ou compaixão pelo povo português. E pouco respeito, sobretudo. À austeridade quase militar, a roçar a tirania, juntam-se as falhas, as previsões furadas, a desculpabilização constante perante números os aterradores divulgados pelo INE ou pela OCDE. Seja em relação ao crescimento do PIB ou em relação às previsões sobre o défice e a dívida, o polícia da Troika Vítor Gaspar é previsível: falha sempre. É de uma competência notável quando se trata de demonstrar a sua própria incompetência. E, imagine-se, mantém a atitude arrogante, quase sobranceira, como se as suas certezas inabaláveis algum dia tivessem sido confirmadas.
Tudo isto faria de Vítor Gaspar, caso este ainda fosse um aluno magricelas da preparatória, uma visita frequente do poste. E até posso estar a ser mauzinho, mas quer-me parecer que tanto os colegas do governo como a oposição em peso lhe segurariam as pernas e gozariam o momento, ao vê-lo estrebuchar. Os portugueses, esses, estou certo que adorariam.
