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A estupidez que reina à volta da co-adopção

22 maio 2013 8:00

Tiago Mesquita (www.expresso.pt)

22 maio 2013 8:00

Tiago Mesquita (www.expresso.pt)

Depois de ouvir os argumentos do padre Borga e de Nuno da Câmara Pereira, ontem no programa Boa Tarde da SIC, contestando o projecto de lei aprovado no parlamento que prevê a co-adopção por casais homossexuais, cheguei a uma conclusão simples: estes dois senhores deviam casar-se. Iam dar-se bem. Juntava-se a Borga à vontade de dizer disparates. É sempre bonito ver a Igreja Católica e a monarquia trilharem, de mãos dadas, os insondáveis caminhos da hipocrisia. "Até as plantas têm o masculino e o feminino", atirou o engenheiro agrícola, em tempos pretendente ao trono, tentando provar não se sabe bem o quê. Com argumentos destes, é bem capaz de conseguir vir a ser rei de qualquer coisa. Dos frangos, provavelmente.

Li ainda, no blogue corta-fitas, um post que me deu vontade de regurgitar. Intitulava-se  "Instituições são piores que adopções por homossexuais?". Depois de muitos disparates pelo meio, terminava o texto da seguinte forma: "Pelo menos nas instituições não correm o risco de chegarem a adolescência e serem seduzidos pelos pais." A autora, Maria Teixeira Alves pretendeu, com esta última afirmação, ser lapidar. Conseguiu, no limite, roçar a estupidez.

Depois dos milhares de casos de abusos sexuais praticados em crianças institucionalizadas neste país, abusos perpetrados na sua grande maioria por insuspeitos senhores de família tradicional e com filhos, escrever uma frase destas, ignorante, arrogante e mesquinha, só revela que a homofobia está enraizada na nossa sociedade e assim vai permanecer durante muito tempo. "A natureza é tão homofóbica!" - escreveu a senhora, certamente tentando justificar a sua própria natureza.

Consigo perceber a preocupação, quando genuína, em relação ao bem-estar das crianças. Consigo entender que as pessoas, em especial as menos informadas, ignorantes que são em relação às novas formas de família, levem algum tempo a adaptar-se às mudanças da sociedade. Esta resistência é até, a meu ver, natural. Já pouco natural é assistir ao discurso irracional, carregado de falácias, de pessoas supostamente informadas. A coisa é muito mais simples do que parece. As crianças precisam de amor. Apenas e só. E o amor não tem género. O amor é cego. Um pai e uma mãe. Dois pais. Duas mães. É relevante? Para alguns parece que sim.

 

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