O País dos Prodígios

Transplantes e desplantes

8 fevereiro 2008 13:30

8 fevereiro 2008 13:30

Em Portugal faz-se um caso de tudo e de quase tudo se faz um caso. Veja-se o caso dos transplantes. O Estado paga incentivos enormes aos hospitais que os fazem e soube-se que o presidente da Autoridade para os Serviços de Sangue e de Transplantação (ASST), Eduardo Barroso, continuava a ganhar milhares de euros mesmo sem os fazer.

Barroso alega que formou e dirigiu a equipa que mais complexos transplantes faz no Curry Cabral e que foi para a Autoridade com a condição de ganhar a percentagem que lhe cabia na sua equipa (e que era a parte de leão). Foi assim que se soube (na revista 'Visão') que aquele ilustre cirurgião tinha arrecadado mais de 277 mil euros só no último ano.

Escândalo, dizem todos, e eu também. E acrescento: mais do que transplante é desplante!

Mas ponhamo-nos, um momento, na pele de quem necessita de um transplante (ou na de quem tem um familiar próximo a necessitar). Acharemos este dinheiro bem gasto? Compreenderemos que o Estado pague tanto a quem os faz?

Talvez. As coisas nunca são a preto e branco.

Sabemos que todos deveriam ser como os cirurgiões de Coimbra Manuel Antunes e Alfredo Mota, que não recebem qualquer incentivo pelo seu trabalho fantástico nos transplantes cardíacos e renais.

Mas nem sempre o que deveria ser o é.

E como médicos como Manuel Antunes (que em tempos entrevistei longamente), competentes, sérios adeptos da medicina pública (apesar de politicamente conservador) são tão raros, teremos, provavelmente, de continuar conviver também com os desplantes do Dr. Barroso.