24 agosto 2009 12:14
O espanto com que as mais pequenas nos observam, escondidas atrás das saias das mães. A alegria com que correm para nós, estendendo-nos uma bola para jogarmos com elas. A sinceridade com que se riem quando lhes fazemos uma careta. A inocência com que apontam para nós, enquanto gritam "obroni, obroni".
24 agosto 2009 12:14







Por tudo isto, as crianças ganesas - e, de um modo geral, todas as crianças de países subdesenvolvidos - fazem-nos recuar uns anos no espectro temporal da nossa vida, transportam-nos para memórias de dias despreocupados e plenos de satisfação.
As nossas crianças - as crianças do mundo desenvolvido - estão a perder cada vez mais cedo essa capacidade de nos fazer viajar. Antes da primeira década de vida acabar já estão preocupadas com o telemóvel novo, exigem ter os sapatos da moda e passam os dias em frente ao computador.
Não sou propriamente uma autoridade na matéria. Afinal de contas, vendo bem as coisas, deixei a infância para trás há menos de 10 anos, tendo pertencido a uma espécie de geração de transição. Mas há factos que não dependem de qualquer condição subjectiva do observador para serem inegavelmente reconhecidos. E um deles é o de que as crianças ganesas, tendo pouco ou quase nada, conseguem ter o mais importante: o poder de nos fazer recordar aquela sensação de flutuar ingénua e inocentemente por cima do mundo real. Lembram-se de como era?