17 setembro 2009 10:36
17 setembro 2009 10:36
"- Mas não a nós - volveu o administrador. - Nós preferimos fazer as coisas com todo o conforto.
- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o autêntico perigo, quero a liberdade, quero a bondade, quero o pecado."
Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo
" Vale a pena viajar, perder tempo e gastar dinheiro, quando se aprende alguma coisa sobre o mundo e sobre nós próprios."
Gonçalo Cadilhe, No princípio estava o mar
Não queria terminar esta aventura - não a do Gana, porque essa já chegou ao fim, já estou de regresso a Portugal e à vida de estudante, mas a de ser o autor deste blogue, sem partilhar os dois excertos que mais marcaram os meus momentos de leitor estival, talvez por me sentir especialmente identificado com eles, extraídos de dois dos livros que me acompanharam ao longo da viagem.
Os "administradores", aqueles que tão surpreendidos ficaram por eu abdicar de um Verão relaxante, que poderia ter sido passado dentro do (roubando uma expressão feliz a um caro amigo meu) "casulo do conforto", têm a resposta no primeiro dos excertos.
Aqueles que me criticaram por gastar o meu tempo e o meu dinheiro a tentar resolver problemas que não querem ser resolvidos, ainda para mais quando temos tantos desses aqui tão perto de nós, têm-na no segundo.
Se tivesse que escolher o sentimento, a sensação que guiou o meu último mês e meio, a frustração e a decepção seriam os mais fortes candidatos, pela frequência com que sobre mim se abateram quando (e tantas foram as vezes) me deparei com portas fechadas, becos sem saída e obstáculos inultrapassáveis no caminho.
Disse-vos que esta era, à partida, uma missão condenada ao fracasso, porque, e cedendo à tentação de terminar como comecei, "com 20 anos todos achamos que podemos mudar o mundo". Um mês e meio depois, compreendo que estava errado. "Pretensioso", chamar-me-ão. Mas antes que o façam, deixem-me dizer-vos o que mudou: o meu conceito de "mundo" ou da sua mudança. Por mais pequeno que tenha sido, o impacto positivo que a minha actuação exerceu na existência de algumas pessoas despoletou em mim sentimentos de genuína alegria, com um valor infinitamente superior a qualquer minuto gasto, euro pago ou momento de conforto renunciado.
Seja porque, segundo as notícias que vou recebendo do Gana, Nyame está quase a partir para a Nigéria; seja porque alguns dos membros da comunidade do e-waste de Agbogbloshie vão passar a usar máscaras e luvas de protecção no desempenho da sua actividade; seja porque Oduman, mais tarde ou mais cedo e com mais ou menos burocracia, terá o seu primeiro caixote do lixo, sou hoje levado a concluir, com inegável certeza, que valeu a pena!
Se vou lá voltar? Não sei. Por enquanto, "estou cá cuma gana" de acabar o meu curso e é nisso que me vou concentrando. Até lá, fica relegado para segundo plano aquilo que pensei enquanto via Accra a fugir-me debaixo das asas do avião: "até à próxima".