Ela é carioca

Quando os prazos perdem a validade

12 junho 2008 19:10

12 junho 2008 19:10

Trabalhar numa revista tem muitas vantagens, que, aos poucos, vou descobrindo com enorme prazer. O praticamente infinito horizonte de temas passíveis de serem abordados, a discussão com os colegas da validade das propostas e dos múltiplos ângulos por onde se pode agarrar um assunto, o maior tempo e cuidado na pesquisa dos temas aceites, o enorme desafio que constitui a tentativa de concretização dos projectos e que passa pelo contacto com as personagens retratadas ou envolvidas, pelos meios disponíveis, o insuperável peso da imagem gráfica que qualquer história tem de ter para se tornar publicável numa revista, a necessidade de encontrar registos de escrita criativos, interessantes e que andam no fio da navalha entre o literário e jornalístico. É sedutor!

Mas... Há sempre um ou vários mas, em tudo na vida e o trabalho nas revistas está longe de ser diferente. Até agora, o que mais me tem incomodado atende por um mesmo nome: tempo. Ou seja, capacidade de resposta, apertada entre a antecipação dos fechos, e a cadência do ritmo de publicação. Numa revista, os trabalhos têm de ser feitos com maior antecedência, neste caso, a semana acaba na terça-feira e tudo o que vem a seguir é excesso. Num mundo online, é muito mais fácil sentir a frustração de se trabalhar na imprensa. 

Esta semana, dei de caras com as limitações de trabalhar numa revista. Há já algum tempo que temos pronta uma entrevista com André Gonçalves Pereira, advogado de sucesso, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, personalidade sedutora. A urgência de outros temas, a certeza de que o trabalho exigia espaço e merecia destaque, dada a raridade das suas entrevistas, não permitia, contudo, que a sua publicação fosse agendada. Depois de vários adiamentos, a data definitiva passou a ser 13 de Junho.

O tempo foi passando e as perguntas foram sendo actualizadas. Desconfortável, mas necessário e, parecia, sob controlo. O problema é que, há uma semana, a entrevista de rara, passou a "dejá vu". O "Jornal de Negócios" publicou antes do Expresso uma entrevista com André Gonçalves Pereira. Nós não sabíamos que tal ia acontecer. Quando vimos, veio a incógnita: o que fazer? 

O "Jornal de Negócios" é uma publicação especializada, o Expresso é o maior jornal generalista português. As tiragens e as vendas não se comparam, o nosso público é muito mais amplo. Mas a verdade é que, da dianteira, passámos às traseiras e que, em um país pequeno como Portugal, o círculo dos decisores é mais do que restrito e, estes, lêem os dois títulos. Além do mais, como é natural em uma entrevista de vida, muitos dos assuntos acabavam por se repetir.

Entre a frustração do jornalista, que quase prefere não publicar o seu trabalho, e o bom senso profissional que pondera toda a realidade e, sobretudo, o interesse dos leitores do Expresso, a publicação é assegurada, mas que fica a histeria com os ponteiros mais lentos de trabalhar numa revista, lá isso fica.  

Christiana, jornalista