Ela é carioca

Atenção à conversa

8 novembro 2007 15:34

8 novembro 2007 15:34

Um colega de secção me passou um texto publicado a 31 de Outubro no site "Knowledge@Wharton", intitulado "A Fragmenting of the Audience: The State of Business Journalism". O texto resulta de uma mesa redonda, reunindo participantes de um seminário sobre jornalismo económico na Universidade de Wharton: uma produtora do programa "Marketplace", um jornalista do "The New York Times", o chefe do escritório norte-americano do "Les Echos" e a chefe da CNN na Índia. Ficaram alguns alertas que gostaria de partilhar neste espaço.

Qual o papel do jornalismo económico na actualidade? A expansão e a globalização afectaram os níveis de qualidade? Qual o espaço reservado para o jornalismo de investigação nesta área, com as actualizações em directo e com os orçamentos dos órgãos de comunicação em declínio? Devemos estar preocupados?

Uma das achegas é de que com a maior democratização da informação e a fragmentação da audiência se regista um fenómeno curioso: há muita informação que não está a alcançar certas pessoas. Embora o universo de leitores/espectadores seja mais amplo, não significa que este seja mais profundo. Há menos fontes interessadas em colaborar com a preparação de um trabalho jornalístico fundamentado e que resulte de cuidadosa investigação.

A fragmentação das audiências exige do jornalista a capacidade de se direccionar a mais tipos de audiência em simultâneo. O jornalista francês recorda, por exemplo, que "estávamos habituados a escrever/falar para um público que sabia do que estávamos a tratar". Actualmente, o resultado do trabalho jornalístico tem de ser capaz de ser lido por um absoluto leigo no assunto. (Sempre deveria ter sido assim, não?) Ele explica que as diferenças devem ser feitas no tratamento dos temas, através da sua separação por diferentes suportes de informação.

Inquietante foi o comentário do jornalista do "NYT" de que a tradição arrogante dos jornalistas de serem eles a fornecer a informação aos leitores, fornecendo-lhes simultaneamente o contexto e a interpretação, está a ser posto em causa. Haverá cada vez mais pessoas a decidirem que devem ser elas próprias a escolher a interpretação e o contexto a associar a uma determinada informação.

Também gostei de ver a referência à transformação dos gestores numa espécie de celebridades mediáticas. Há mais personalização, humanização e comentários, para além dos aspectos meramente profissionais das suas vidas. O problema é que, cada vez mais, estas estrelas tentam controlar a informação que sai nos órgãos de informação sobre as suas vidas. Profissionais ou não.

Interessante também foi quando os participantes foram confrontados com a necessidade de aconselharem um estagiário que estivesse a ingressar agora no mundo do jornalismo económico. Os conselhos são simples. Ler muito. Ler sempre. Ser insaciavelmente curioso sobre tudo e mais alguma coisa. Ser capaz de trabalhar em todos os meios de comunicação, segmentando a informação conforme as necessidades de cada público-alvo. Mesmo que se fale de cortes nos impostos, deve-se procurar o lado humano e personalizado da informação. Porque o coração do jornalismo continua a ser a capacidade de contar uma história. Os fundamentos não mudaram. Por mais que tentem transformar esta profissão em mais um ramo do entretenimento.

P.S. - Queria aproveitar para deixar uma homenagem. A Agência Magnum está a completar 60 anos. Os seus 69 fotógrafos serão convidados a escolherem seis imagens, comentadas por outro membro da agência, cada um para editar um livro histórico. A grande agência de fotografia do mundo, uma fábrica de sonhos, como diz o "ABC", criada em 1947 e que nos marcou a vida com as imagens de Robert Capa, David Chim Seymour, Eve Arnold, Inge Morath, Elliott Erwit, Josef Koudelka, Susan Meiselas, Cartier-Bresson, os "apóstolos da ética humanista", como refere o historiador de fotografia, Publio Mondéjar. M., esta é para ti que estás longe.

Christiana, jornalista