20 fevereiro 2009 3:40
20 fevereiro 2009 3:40
Em Julho de 1993 um cartoon de Peter Steiner para The New Yorker tinha a legenda que ficou como um símbolo de muitas coisas, do vandalismo à irresponsabilidade à impunidade: "na Internet, ninguém sabe que és um cão". Mas não foram precisos muitos anos para a frase se virar ao contrário. Na versão 2.0, a web das pessoas, "toda a gente sabe que és um cão" passou a ser o lema.
Não sei se o deputado Pedro Duarte pensou nessa frase esta semana - mas eu pensei, a propósito dele. E não, não tem NADA a ver com a parte do cão. A verdade é que na Internet toda a gente sabe que ele é um deputado.
A história em dois tempos, para quem não sabe. Houve um debate em tempo real, via Twitter, acerca do Prós & Contras desta semana sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Às tantas, da conta de Pedro Duarte - um da dúzia e meia de deputados que já usa aquela ferramenta de proximidade com os cidadãos - sai uma frase politicamente incorrecta e mal educada acerca de uma das senhoras que estava na televisão. Caiu o Carmo e a Trindade - e, se forem ver, continuam a cair, que as redes sociais têm esse condão, perpetuam alguns assuntos quase tanto como as televisões passam as imagens (do YouTube, sem direitos) da cena do telemóvel na sala de aula. Pedro Duarte pediu desculpa, disse-se vítima de uma violação da sua conta no Twitter e apagou-a.
O problema com Pedro Duarte é o problema de tantas pessoas, sobretudo da esfera pública, quando mudam de paradigma de comunicação às massas.
No antigamente, Pedro Duarte teria proferido aquela frase para um conjunto de jornalistas que iriam levar o que ele pensa para os seus jornais. Naturalmente, os jornalistas filtrariam o discurso, de forma automática. Claro que há sempre o risco de alguém se armar em esperto: calculo em 1 em 25 as probabilidades de um neófito desejoso de aparecer ou um de cor política diferente lhe passar a rasteira e apresentar a frase ipsis verbis.
Hoje, Pedro Duarte dirige-se ele próprio às massas no ambiente de circo onde estas pagam o bilhete, são o speaker, a plateia e vendem o algodão doce à porta. É uma figura pública no arame com os holofotes todos apontados. Não tem os jornalistas a mediarem, maquilharem, comporem.
Na web social, um político é uma pessoa como qualquer outra, com a diferença que é um político.
Se o vizinho do lado dissesse o que ele escreveu, 10 pessoas teriam protestado, 5 pessoas teriam batido palmas (eu vi 2 apagarem os seus apoios à tirada machista, na sequência da caça ao deputado que se seguiu) e a grande maioria teria encolhido os ombros e passado ao próximo assunto.
Mas não foi o vizinho do lado. Foi ele, deputado da Nação. E um deputado da Nação não pode dizer daquilo em público sem pagar a factura.
A lição do caso, espera-se que fique. O Twitter e as redes sociais são espantosas para fazer política, diz-me cada convertido que nelas mergulha. Mas nelas tudo está exposto e nada nos pertence, excepto a nossa reputação. E (ainda) não há assessores. Não há mediadores. Somos o que formos capazes de dizer e de ouvir. E de assumir.
Paulo Querido, jornalista. Siga-me no Twitter.