Um bife mal passado

E finalmente o Tratado

4 dezembro 2009 18:04

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

4 dezembro 2009 18:04

Alexander Ellis, Embaixador Britânico

Finalmente há Tratado. Lisboa celebrou com discursos e fogo de artifício na terça-feira. O sentimento predominante nas celebrações foi mais alívio que alegria. Alívio que haja um  resultado  de tantas horas de reuniões, de debate político, e até de referendos. Alívio que finalmente a União Europeia possa concentrar-se menos em questões institucionais e mais nas questões determinantes para o nosso futuro colectivo; a retoma económica e a luta contra o  desemprego, as alterações climáticas, a necessidade de ter uma Europa capaz de alcançar os seus objectivos em parceria com os poderes mundiais existentes e emergentes. Não  podemos  ter  o luxo de olhar sempre para o nosso umbigo institucional -  não  quero dizer  com  isso que as instituições não  sejam importantes - são, por natureza,  um elemento essencial na construção europeia. Mas há  um fosso cada vez maior entre o mundo de Bruxelas e o resto de Europa, que os  intermináveis debates sobre  as instituições tendem  a  aumentar,  e não diminuir.

Concordo com o Presidente da Comissão Europeia quando ele disse em Lisboa nas celebrações que este Tratado termina um ciclo europeu que a queda do mundo de Berlim iniciou. Penso que daqui a cem anos os cursos universitários sobre a politica europeia vão ser dedicados ao fim do Comunismo e ao tratado de Maastricht - a resposta europeia  à emergência duma Alemanha unida  (resta saber  se estes cursos formarão uma parte essencial do currículo universitário dos estudantes chineses ou  se no futuro serão apenas uma curiosidade esotérica sobre historia do século XXI ... ).  O Tratado de Lisboa talvez  seja  visto como o ultimo acto de digestão do processo  começado em Maastricht.

O que quer dizer o Tratado de Lisboa, na prática? Durante as  campanhas de ratificação houve muito debate sobre a complexidade do Tratado, em contraste com os objectivos da reforma institucional estabelecidos pelos líderes europeus na declaração de Laeken em 2001 "as instituições europeias  devem tornar-se mais próximas dos cidadãos".  Mas para ter uma verdadeira compreensão do sentido de qualquer texto político temos que ler não só as suas palavras,  mas também a maneira  como é posto em prática. Como  disseram alguns oradores na  terça-feira, um Tratado não basta  por si próprio; tem que haver vontade política.  Enfim, acho que a melhor resposta à pergunta é aquela do Deng Xao Ping quando  lhe  foi perguntado o que foram as consequências da Revolução Francesa - "é  demasiado cedo  para  saber".