Ré em causa própria

................Não acaba a Primavera

15 agosto 2013 13:00

Adelina Barradas de Oliveira

15 agosto 2013 13:00

Adelina Barradas de Oliveira

 

 Será o fim da Primavera árabe? 

 

Como é possível prender alguém  sem mandado e sem direito a Julgamento? 

 

Estive lá em Julho de 2010. É um País, uma Nação, uma cultura que mexe comigo. Creio que a culpa é e foi sempre dos meus professores de História. No entanto o presente foge bastante ao que ficou para a História de um povo de Faraós. Não desapareceram contudo os contrastes.

Uma minoria vive bem,..uma maioria vive de forma tão pobre que mete medo.

 Os jovens, por incrível que pareça, estudam fora em faculdades internacionais mas, vivem de forma tão pobre que me perguntei como é possível viver assim.

De conversa com um jovem núbio, percebi que com 30 anos ele tinha uma cultura mais aberta e maior que a minha no que respeitava ao Mundo que nos rodeia. No entanto, na "casa" dele não havia sofá,...não havia biblioteca,....não havia micro-ondas.... Era como se vivesse clandestino. Falava fluentemente 5 línguas como se se estivesse a preparar para uma batalha.

 Tinha uma serenidade doce no olhar e não havia sombra de ódio ou revolta, falsa modéstia ou cinismo... Era um homem com o futuro pela frente....com o Mundo pela frente....com ideias a realizar....a seu tempo.

Nos bairros mais pobres é complicado caminhar existem enxames de crianças descalças, sujas, pobres que vendem de tudo a todos por um euro. Lembrei-me de Cuba e de MarraKeche.

As mulheres passam tapadas, escondidas, submissas ou revoltadas. As mulheres cristãs, ostentam os seus cabelos, as pernas e os braços e sinto-me acompanhada. O misto de tendências é gritante.

Um muçulmano e uma cristã amam-se, encontram-se às escondidas num barco, depois só se voltam a ver no outro dia. Ela sai como turista, ele olha em volta com o medo estampado nos olhos.

 Entre as pirâmides, o silêncio do deserto parece apontar-me alguma culpa e esconder um segredo terrível de um povo que já foi grande e senhor de segredos incríveis que estão agora fechados nos livros dos estudiosos, debaixo do tempo feito de areia.

 Foi em Julho de 2010,.... Em Fevereiro de 2011...era como dizia a rapariga egípcia na reportagem que correu mundo ... - "As pessoas deixaram de ter medo."

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Deixaram?!?

Como vai o Povo egípcio reagir ao que aconteceu ontem dia 14 de Agosto de 2013?



E a comunidade Internacional? Vai reagir como? Como temos reagido a todas as violações dos Direitos Humanos?

Não é um mero confronto policial, são centenas de pessoas mortas e feridas.

Mohamed El-Baradei renunciou ao cargo comunicando ao presidente Adly Mansour, que não conseguia "arcar com a responsabilidade pelo derramamento de sangue".

 As praças Nahda e Rabaa al-Adawiyya lembraram-me o terrível acontecimento aquando do protesto na Praça da Paz Celestial (Tian'anmen) em 1989.

A História repete-se agora noutro local no mesmo globo mundial.

Haverá rebeldes desconhecidos que obriguem os tanques a parar?

 

ACCB