22 abril 2014 7:56
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Em 1815, um vulcão escondido numa longínqua falha indonésia entrou em actividade. De seu nome Tambora, o bicho esteve activo entre Abril e Julho e, durante estes quatro meses, expeliu quantidades industriais de enxofre e as suas cinzas abraçaram um raio de 50 quilómetros. Claro que esta distância foi esticada pelos favores do vento e a nuvem de cinza acabou por dar um volta ao mundo, qual Magalhães vulcânica. Os efeitos não se fizeram esperar. O ano seguinte, 1816, ficou conhecido como "o ano sem verão" no Reino Unido e na América do Norte. Do pé-pra-mão, aquele instrumento da natureza provocou um arrefecimento global.
Em séculos anteriores ocorreram fenómenos opostos, ou seja, tivemos anos ou épocas de aquecimento causado por fenómenos naturais e não por qualquer partícula daninha provocada pelo homem empoleirado no tubo de escape. Por exemplo, a Idade Média foi um período particularmente quente. De seguida, tivemos uma descida da temperatura que atingiu a chamada "pequena idade do gelo" entre os séculos XVII e XIX. Ora, perante estes factos, a pergunta só pode ser uma: se o "homem industrial" é o responsável pelas mudanças climáticas, por que razão o clima mudou tanto antes do advento da revolução industrial?
A ideia de que o homem é a causa do "aquecimento global" ou das "mudanças climáticas" (a narrativa muda consoante a temperatura) sempre me pareceu uma manifestação da velha arrogância iluminista que coloca o homem no centro de tudo; nesta visão antropocêntrica, os efeitos sentidos na natureza só podem ter uma causa humana. Não lhe passa pela cabeça a existência de fenómenos com mais poder do que a humanidade. É por isso que muitos modelos climáticos das brigadas nem sequer consideram a actividade vulcânica ou as erupções solares. E assim voltamos ao problema do costume: o espírito messiânico desta ciência ambiental. Alguém me explica como é que um cientista consegue conceber um mundo onde nós, homens, somos mais poderosos do que as explosões solares ou mais influentes do que os Tamboras? Há meio milénio, a ciência de Copérnico destruiu a visão antropocêntrica do universo, impondo a visão heliocêntrica. Hoje em dia, uma ciência ambiental demasiado ideológica está a reconstruir um mundozinho antropocêntrico que não tolera a existência de nada superior ao homem. Até dou de barato o desprezo por Deus, mas já não percebo esta coisa esquisita que é não ver o Sol e os vulcões.