28 janeiro 2013 8:08
28 janeiro 2013 8:08
O meu amigo mais antigo (um conceito deveras científico) é cabo-verdiano, e sempre tive relações, vá, mais cordiais com cabo-verdianos do que com angolanos. Digamos que o meu feitio encaixava melhor com os ilhéus do que com os continentais. Por isso, fiquei contente com a vitória de Cabo Verde sobre Angola no Euro africano. Além disso, sempre achei o Funaná muitíssimo superior ao Kuduro. O ritmo cabo-verdiano já merecia a consagração nesse festival da canção que é a CAN. O Kuduro angolano é muito ríspido, parece martelo pneumático, parece uma Ak-47 a tentar fazer poesia. Kuduro é muito masculino. Dança-se, sim, mas é como trabalhar numa empresa de mudanças. O Funaná é diferente, é doce, bamboleante, respeita o corpo, desliza sem pressa. O Funaná é feminino. Nos bailes da escola e nas festas da malta, havia sempre grandes duelos entre os dois estilos, e, se a memória não me falha, o Funaná vencia por esmagamento. Claro que a malta branquelas também queria abanar a anca ao som daquilo. As miúdas gostavam tanto que faziam da maquilhagem uma espécie de camuflagem, ou seja, cobriam a pele com qualquer coisa escura a fim de parecem africanas. A minha aculturação não chegou tão longe. Limitava-me a dançar, e garanto que a expressão "white man can't dance" não foi inventada ali.
Ainda está por fazer a história do quinto império que existe às portas de Lisboa. E, já agora, um desejo quinto imperialista: que Cabo Verde vença a CAN.