11 maio 2013 8:00

Kate MossCampanha de auto bronzeamento
11 maio 2013 8:00
Escrevo a espuma dos dias, que se espraia e se absorve no areal que piso, ainda mesmo antes de por os pés fora da cama. Ela , a espuma, traz o mar que a alimenta e parece que desaparece quando a areia fica só húmida. Mas ela não sabe viver solta do mar. As ondas não se auto-movem e, quando aterram, trazem "branco espumoso". Se para si, que me lê, há espuma sem horizonte, está a tempo de mudar. Kate é mais que uma campanha e um autobronzeador. E tem tudo a ver com Esopo e La Fontaine. E Nietzsche e outros mais.
Sim, não vou falar da dupla Kate Middleton/Letícia Ortiz. Este blogue filosófico tem da filosofia uma concepção que pode isso e muito mais, mas há outros posts. A nossa concepção filosófica remonta a Aristóteles que, no início da "Metafísica", reconhece : "Todo o homem deseja naturalmente saber". É uma filosofia que parte, pois, do que observa - tudo e cada coisa - e não pára diante de nada, avançando sempre. Anteontem tropeçou na bela e escultural Kate Moss. Tropeçar sim. As palavras "truth" e "tree" estão unidas etimologicamente: a verdade é algo incontornável, um obstáculo, uma cena que topo, e só ignoro ao fingir que não vejo. A filosofia é a procura da "verdade". Melhor: encontra, tropeça, e pergunta. Não por perguntar mas para saber. E só se cala quando chega a altura. Não vai em aforismos que me mandam calar antes de tempo.
Aos 39 anos posa nua para uma campanha de autobronzeador. Vem em tudo o que é media. E junto com a fotografia acima postada. Que inveja! Não que eu me importe que me chamem invejosa. Mas eu é que não gosto, soa-me mal; não gosto de o ser. Por isso escrevo hoje acerca do que me fez mais feliz, quando um dia me explicaram que afinal não é inveja o que sinto; e que o que sinto é uma coisa muito boa. O tema é, portanto, "sentimentos".
Poderia ter ido buscar Mozart e Salieri, mas não teria piada nenhuma. Imagina-se Mozart assim ao "solinho" , ou a auto bronzear-se em Saint-Tropez? Já Pitt e Clooney seria outra história (não é meninas?). E virão aqui um dia, seguramente. Mas como escrevo a partir do que me acontece "hoje", decidi-me pela moça londrina que foi descoberta aos 14 num aeroporto. "O Terceiro Verão de Amor" foi a campanha, a preto e branco, que a celebrizou um ano depois. Sol, natural ou artificial, é mesmo com ela.
Então vamos lá. Eu, para dar um exemplo, gostava de ter os músculos da Angelina Jolie. Serei por isso invejosa? Não. Se o fosse isso significaria que gostaria de tê-los MAS que ela não os tivesse. Se os quero e não me faz mossa que ela os tenha igualmente (que os mantenha por bons e largos anos), a esse sentimento chama-se emulação. Não é inveja. Falando bem e depressa, afinal o que sinto em relação a muitas coisas não é inveja mas sim emulação (com "e" e "u", mesmo - não é nem imolação, nem emolação). Aprendi esta distinção em dois livros; um de Gabriel Madinier e outro de Jean Lacroix, especialistas em consciência, sentimentos e vida moral (são os dois franceses! Pois...). Mas qual a diferença? Toda. A inveja é mesmo rara, a inveja corrói, é destrutiva, faz mal ao próprio e ao invejado. São as chamadas "ondas negativas".
Já a emulação, pelo contrário, alimenta, é boa, dá-nos uma ajuda, faz crescer. O próprio e o emulado. Quanto a mim, fiquei num enorme conforto ao saber que o que sinto é, a maior parte das vezes, este positivo sentimento. De uma boa onda.
As imagens da Kate Moss provocam-me emulação porque é muito bom ser uma mulher gira, boazona. E estou à vontade, porque afinal é bom sentir assim. Mas o que me provoca a imagem é muito mais. O que quero: autobronzear-me ou apanhar sol? Quero ser apenas um corpo ou um todo, de beleza encarnada? Quero apenas ser a espuma deitada ao sol ou um "eu" que traz tudo. Quero tudo. A inglesa toda. E prefiro outras fotografias em que ela aparece "toda". Mesmo muito mais despida. Mas estou a falar de fotografia mesmo; e pouco de fotoshop.
A terminar, confesso que não quero fazer como a raposa das uvas maduras. Ao olhá-las tão "alto" e ao reconhecer, inconscientemente, que não consegue "lá" chegar, resolve "mentir-se" dizendo: "são verdes, não prestam". Vira as costas, vai-se embora, mas mal ouve um ruído a vir da árvore, mais depressa se vira para trás a ver se não seria por acaso um bago a cair no chão. Ao seu alcance, portanto. Era apenas um galho. A este sentimento de inversão de valores, chama-se ressentimento e, desta, foi Nietzsche e Max Scheler que o estudaram como ninguém. Consiste este fenómeno da consciência no seguinte: o que considero "bom" e por isso estimo e quero, passa a ser "mau" e, portanto, indesejável, pela simples razão de que não consigo, ou penso não conseguir alcançar. Isto agora aqui dava pano para mangas (leia a primeira página, deste e doutros jornais; veja o que se passa em si e à sua volta....).
Pois é Kate, és muito melhor do que te "fotoshopam", mas eu não me importava nada de ser assim como tu, mossas-me muito bem. Mas é emulação. Ressentimento? Nada mesmo. És madura e prestas. Pois é, este post nunca poderia ter sido escrito por um homem. Muito menos por Wittgenstein que acaba o seu Tratactus dizendo assim, mais ou menos, que daquilo que não se pode pensar, que nos calemos. Nós, mulheres, somos conhecidas por falar muito, é verdade. Mas não é que pensamos bem! E neste caso, como diz o povo, e misturo on purpose: 'quem vai ao mar...sabe o que lá vai dentro'. Topas? O que escrevi hoje é mesmo meta físico.