27 abril 2014 8:36

Pai nosso que estás na Terra
da net
27 abril 2014 8:36
Queria escrever sobre a canonização de João Paulo II e João XXIII. Deitei-me tarde, não consegui. Acabada de acordar, já não dá. Percorri rapidamente os "meus sites" e aqui posto do melhor. Um homem e uma mulher que levam a sério e bem o que fazem. Um é o Presidente da Comissão Europeia, a outra é vaticanista e jornalista da Rádio Renascença. Obrigada aos dois pela ajuda que aqui dão hoje. Eu? Sublinho estas palavras de Durão Barroso a Aura Miguel: "Confunde-se carisma com marketing. Carisma, a palavra original, quer dizer outra coisa: Aquela força que algumas pessoas inspiram em nós e que por vezes não conseguimos explicar. Não há muitas pessoas no mundo que tenham esse carisma. João Paulo II tinha esse carisma." E porquê, pergunto eu? Porque se fez um de nós. Era um homem "normal", que atraia pela sua humanidade. Tanto nos seus momentos de vigor físico (que foram apenas três anos, antes do atentado), até àquele célebre domingo de Ramos em que, uma semana antes de morrer, da janela da Praça de S. Pedro, não conseguiu dizer uma palavra, simplesmente emitiu sons desarticulados. Quem teria a coragem de se mostrar assim em público? E porquê? Foi no entanto capa dos jornais do mundo inteiro.
Segue a conversa entre os dois, tida ontem em Roma, onde hoje domingo se realiza a cerimónia de canonização.
"Durão Barroso lembrou as marcas que João XXIII e João Paulo II, deixaram no velho continente. 'Estes dois Papas que vão agora ser canonizados são duas grandes personalidades da história europeia. João Paulo II está intimamente ligado à reunificação europeia, não apenas pela luta contra a ditadura comunista no seu país, mas também pelo apoio que sempre deu à unidade da Europa. João XXIII foi também uma das grandes personalidades europeias. Não podemos esquecer que foi ele que convocou o concílio Vaticano II', disse.
O presidente da Comissão Europeia recorda 'com especial afecto o facto de João Paulo II, pelo menos uma das vezes em que me encontrei com ele, ter insistido para que eu falasse em português.'
'Comecei em francês, porque é a língua que normalmente se utiliza nessas ocasiões, mas ele insistiu - pensei que fosse uma questão de simpatia do Papa, de mostrar que também era capaz de compreender a minha língua. Mas não. Acho que ele estava sinceramente interessado em praticar um pouco mais o português. Porque ele disse-me que tinha acabado de receber, salvo erro, a conferência episcopal da américa latina. Quase todos falavam em espanhol e ele queria falar em português'.
Durão Barroso considera que 'uma das pessoas que mais me impressionou, do ponto de vista da autenticidade, de espirito de missão, de sentir que havia ali algo acima, o verdadeiro carisma, foi João Paulo II. Hoje em dia fala-se de carisma por tudo e por nada. Confunde-se carisma com marketing. Carisma, a palavra original, quer dizer outra coisa: Aquela força que algumas pessoas inspiram em nós e que por vezes não conseguimos explicar. Não há muitas pessoas no mundo que tenham esse carisma. João Paulo II tinha esse carisma.'
Sobre os "28", o governante português diz que 'a União Europeia hoje em dia não tem quaisquer complexos de afirmar as suas raízes cristãs. Eu acho que este ponto é importante. É um debate que às vezes foi muito nocivo. Obviamente que a União Europeia, como tal as instituições europeias, não têm de ser confessionais e temos de separar os dois domínios, mas historicamente e culturalmente, a Europa tem de reconhecer o legado cristão. Não é único mas é essencial para a Europa e não devemos ter complexo nisso. Aliás, na altura em que houve esse debate eu era primeiro-ministro e fui daqueles que essa referência ficasse no Tratado Constitucional. Infelizmente, como era preciso unanimidade, não foi possível essa referência'.
Em vésperas de eleições europeias, Durão Barroso compreende que haja 'muita desilusão em relação à Europa. Devemos, aliás, tomar isso como um aviso sério. Mas para sermos subjectivos na análise, devemos reconhecer que não é apenas sobre a Europa. É sobre os partidos políticos nacionais, é sobre os governos a nível nacional, é sobre as autoridades, porque as pessoas, o cidadão dito comum, muitas vezes sente que as autoridades, sendo elas nacionais ou europeias, não são capazes de responder às suas ansiedades e aos seus problemas.' 'É isto que se passa hoje em dia na Europa. Uma razão mais para seguirmos, digamos, a inspiração de João Paulo II e, também, do actual Papa, do Papa Francisco', acrescenta Durão à Renascença.
Durante muitos anos, Portugal lutou pela independência de Timor-Leste. Durão Barroso lembra que sensibilizou 'várias vezes o Papa João Paulo II para a questão de Timor-Leste porque na altura, esta é a verdade, aqui o Vaticano - a Santa Sé - não estava tão disposto, como nós, em Portugal, a afirmar a possibilidade de haver uma independência em Timor-Leste.'
'A Santa Sé achava que no máximo teríamos a hipótese de uma autonomia cultural, religiosa. O Papa e a igreja local em Timor tiveram um papel extraordinário. Quando falei com o Papa João Paulo II sobre esta questão, ele disse-me, pelo menos duas vezes: todos os dias rezo por Timor-Leste. Ele sentia a causa de Timor-Leste. Muito sinceramente, não posso dizer o mesmo sobre a diplomacia do Vaticano.' ".