14 julho 2013 8:00
14 julho 2013 8:00
Nestes últimos dias muita despedida, muito beijo, muito abraço. Muita troika para lá, muita troika para cá. Pouco sol. Grito na rua, grito na Assembleia. Sangue assim à vista, isso não. Lembrei-me da Revolução - houve alguém que até pediu outra. Impossível esquecer-me da senha e da voz, "E depois do Adeus", do Paulo de Carvalho. Duma letra e de uma música que todos sabem. Num dia que não sei se é Verão. Num dia que, quer queiram quer não, é Domingo. E Domingo pode já não ser "O dia do Senhor", mas é sem dúvida, dia de muitos senhores. Há sempre um senhor.
Ontem, no meu facebook, um amigo (desculpa, não te pedi autorização para transcrever isto), dizia uma coisa que não sei dizer melhor e é mesmo verdade: "Se tivéssemos duas bocas e apenas um ouvido seria uma prova do que a natureza de nós esperava: mais conversa e menos escuta. Mas a providência fez-nos o favor de indicar o sentido. Ofereceu-nos uma língua e duas orelhas. O que nos poupou a trabalhos pois, independentemente de leituras sagradas ou profanas, tornara-se evidente que devíamos privilegiar a escuta ao palavreado. Porém, somos especiais, não gostamos de coisas fáceis. Talvez só nos aprestemos a ouvir quando nascermos sem ouvidos. Ou formos uma boca." (Luís Osório)
A voz canta e eu escuto, agora noutro contexto. Não estou no Carmo (isso só para a semana como aqui explicarei detalhadamente), estou na Trindade. Porque para mim Domingo será sempre Domingo e porque tiro gosto da boa música. E claro, a Filosofia: quis saber quem sou, o que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci, perguntei por mim, quis saber de nós e o mar traz-me a Tua voz (diz que não, mas é mentira, José Nisa). A pontuação? É da minha autoria.
Ainda tenho conversas com Portugal? Em silêncio, amor? Eu te sinto, em flor? Eu te sofro, em mim? Eu te lembro, assim? Partir é morrer? Como amar, é ganhar e perder?
Dizem que somos os que estamos cá há mais tempo, neste velho Continente, assim com estas medidas. Mas já não sei o quer dizer História de Portugal, que me caiu ao colo faz em Setembro 53 anos. O que te faço? Tu vieste em flor? Eu te desfolhei ?Tu te deste em amor? Eu nada te dei ? Em teu corpo, amor, Eu adormeci? Morri nele? E ao morrer, Renasci?
E depois? Sim, e depois? Sim, porque não vou ficar aqui sempre. A curva - de um dia como os outros - pressinto-a em cada gesto, menos longe. Mas só me falam do pós troika! E depois do amor? E depois de nós? O dizer adeus? O ficarmos sós? Tua ausência em mim? Tua paz Que perdi? Minha dor? Que aprendi! De novo vieste em flor.
Desde cedo que resolvi não "adiar o coração" ("amarás o teu coração") As palavras são de um poema de Ramos Rosa que me disse num 12 de Novembro, à tarde, que o seu poema preferido era "O boi da paciência". Não digo porquê. Ainda sei o que é um segredo. Mas a minha Paciência - a ciência da Paz, ou da "tranquilidade da ordem em todas as coisas", como bem explica Santo Agostinho, um Politico de primeira - tem crescido. E como "sai de Sena quem não é de Sena", vou entrar hoje na correspondência entre os dois poetas, acabadinha de sair do forno. Gosto da imensa "perfídia portuguesa", que é minha. E de pão com manteiga e café. A resposta trá-la o mar, traz. Uma questão de voz e de escuta. Afinal, de boca. Da companhia que só chega se ficarmos "sós". O importante é a Rosa.