Escassas semanas depois de dar cinco concertos no Porto e em Lisboa, Chico Buarque completa 79 primaveras. Nascido no Rio de Janeiro em junho de 1944, um dos grandes vultos da cultura brasileira atravessou com intensidade as últimas décadas do seu país, não só no que respeita à música e demais artes nas quais é fluente, como enquanto observador participante na história de uma nação que, em iguais doses, tem criticado e louvado — que tem amado, portanto. Desde os verdíssimos anos enquanto cantor-compositor, o filho de Sérgio, historiador e jornalista, e Amélia, pianista e poetisa, reuniu numa caligrafia muito própria as vocações que recebeu por via familiar. Quando, em criança, o pai foi convidado para dar aulas em Roma, levando mulher e filhos consigo para Itália, o pequeno Chico já deveria intuir o que o futuro lhe reservava. Num bilhete para a avó Heloísa, o menino que crescera a ouvir marchinhas de Carnaval na telefonia da babá índia escreveu: “Olhe vozinha, não se esqueça de mim. Se quando eu chegar aqui você já estiver no céu, lá mesmo veja eu ser um cantor de rádio.” Mais tarde, durante a ditadura militar brasileira, voltou a Itália, desta vez em regime de autoexílio, e no regresso ao seu país cimentou, apesar das intromissões da censura, a profecia da infância: em 1971, aos 27 anos, lançou “Construção”.
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