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Super Bock em Stock: amor e aviões de papel na lenta explosão de Porridge Radio

No primeiro concerto em Lisboa, as Porridge Radio souberam conquistar a plateia “flutuante” do festival Super Bock em Stock. E despediram-se com aviões de papel cheios de carinho

Após um concerto em crescendo, as Porridge Radio, banda de Londres com ‘escala’ em Brighton, saíram do Coliseu de Lisboa com a certeza de terem conquistado uns bons fãs. Se, à hora marcada para o início do espetáculo, poucos eram aqueles que aguardavam as autoras de um dos álbuns mais recomendáveis do ano, uma hora volvida o cenário era bem diferente. 2022 foi o ano da confirmação da trupe comandada por Dana Margolin, cantora-compositora de fina estampa que, ao vivo, não se escusa a dar tudo pelas canções altamente emocionais que lhe saem da cabeça. O esforço foi reconhecido, neste sábado à noite, pela plateia nómada do Super Bock em Stock: poucos no começo, muitos no final, os espectadores ficaram tão bem impressionados que até pediram encore - e, coisa nem sempre garantida em modo festival, conseguiram-no. Felizes com o entusiasmo popular, Margolin e Georgie Stott, teclista da banda, quiseram dar algo mais ao público e transformaram as folhas com o alinhamento do concerto em aviões de papel, enviados para a plateia. Ao ver que um deles caíra no fosso dos fotógrafos, Stott, cujos teclados emprestam um tempero algo burlesco ao som das Porridge Radio, desceu do palco para simpaticamente corrigir o arremesso.

Foi um episódio simples mas que demonstra bem a forma como a banda britânica - na qual militam, também, a baixista Maddie Ryall e o baterista Sam Yardley - soube conquistar o público flutuante deste festival, no qual várias salas acolhem concertos em simultâneo.

Porridge Radio no Coliseu de Lisboa
Nuno Fox

Entrando em palco de forma airosa, dançando ao som da música ambiente e mostrando o entrosamento expectável de quem passou o ano em digressão (ontem, estiveram em Guimarães), as Porridge Radio apresentaram-se com os suportes de microfone engalanados com réplicas dos objetos a que se referem no título do álbum deste ano, “Waterslide, Diving Board, Ladder to the Sky" (um escorregão de parque aquático, uma prancha de piscina, um escadote para o céu). Fã de bandas indie e do movimento riot grrrl, como revelou à BLITZ em Paredes de Coura, Dana Margolin tanto canaliza a elegância neurótica do mestre Robert Smith, dos Cure, como traz à memória a teatralidade de Amanda Palmer, dos Dresden Dolls.

Saltitando com estilo entre a auto depreciação muito britânica e uma certa postura de desafio, a jovem consegue captar, em canções como 'End of Last Year’, ‘Birthday Party’ ou ‘Back to the Radio’, perfeitas polaroides da paranoia que atravessou os últimos dois ou três anos da vida ocidental, fazendo da sua catarse a delícia de quem a ouve. Em ‘Lilac’ e ‘Long’, do álbum “Every Bad”, de 2020, rodopia em torno de pensamentos intrusivos sobre o seu corpo ou o seu tempo; em ‘Sweet’, escolhida para o encore, depois de encerrar, também, o concerto em Paredes de Coura, promete (a si mesma?): “You will like me when you meet me/You might even fall in love”. Já vimos casos de amor com o público português a nascer por menos do que isto.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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