No Irão, os maiores protestos das últimas décadas têm sido musicados por uma canção cuja letra é feita de mensagens escritas no Twitter pelos participantes nas manifestações.
Shervin Hajipour é o nome do músico e ‘Baraye’ o título da canção. A palavra significa algo como “porque” ou “em nome de”, e reúne muitas das motivações que têm levado os iranianos para as ruas. “Em nome de dançar nas ruas” é o primeiro verso, aludindo a uma atividade proibida no Irão. Seguem-se frases como “em nome de todas as vezes que tivemos medo de beijar os nossos amantes”, “por causa da vergonha de um bolso vazio” ou “em nome do desejo de uma vida normal”.
Segundo o jornal “Washington Post”, a letra da canção menciona ainda a corrupção, a censura, a discriminação de género, a degradação ambiental e as tragédias nacionais, tal como a iminente extinção da chita persa ou o abate de um avião de passageiros ucraniano em 2020, que o Governo iraniano considerou um incidente militar. A canção termina com a deixa “em nome das mulheres, da vida, da liberdade”.
A canção foi partilhada por Shervin Hajipour no seu Instagram no final de setembro, rapidamente alcançando mais de 40 milhões de visualizações. No dia seguinte, o músico foi detido e a canção retirada do site, mas continua a ser partilhada por toda a internet e nas ruas do país. Esta semana, o artista de 25 anos foi libertado, mediante pagamento de uma fiança, tendo agradecido, nas redes sociais, aos seus seguidores e professando o seu amor pelo Irão, mensagem que alguns suspeitam ter sido escrita a mando das autoridades.
Os protestos no Irão começaram após a morte de Mahsa Amini, uma jovem detida pela polícia de Teerão no mês passado, e espalharam-se pelo país. Os cidadãos revoltam-se agora não só contra a morte da jovem como contra a pobreza, a repressão e a violação dos direitos humanos.
Na canção, Shervin Hajipour canta “em nome da minha irmã, da tua irmã, da nossa irmã”, referindo-se a Mahsa Amini, que terá sido morta por violar o código de vestuário das mulheres iranianas, e também “por causa dos escombros das casas mal construídas”, uma alusão a um edifício de dez andares que se desmoronou, em maio, completa o “Washington Post”.
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