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Bia Ferreira, 29 anos, artista e ativista brasileira: “Temo pela minha vida, mas prefiro ser lembrada como alguém que não se calou”

Bia Ferreira
Bia Ferreira
Rita Carmo

Terminou uma digressão portuguesa este sábado, em Lisboa, conquistando cada vez mais público com a sua mensagem fortemente politizada. Em longa e franca entrevista, Bia Ferreira partilha a história de vida improvável de alguém que foi criada para ser pastora evangélica, foi submetida a uma “cura gay“ na adolescência (“não deu certo!”) e corre o mundo a pregar outras formas de amor. E a sonhar ver, um dia, os pais na primeira fila de um concerto seu

Nascida há 29 anos no estado brasileiro de Minas Gerais, Bia Ferreira cresceu no seio de uma família numerosa e com poucos recursos financeiros. Porém, os seus pais tudo fizeram para que Bia e os seus cinco irmãos tivessem uma educação académica e musical que os defendesse na vida. Hoje, a cantora, compositora e instrumentista está grata aos pais, que são missionários cristãos, pela “vantagem social” que essa educação lhe proporcionou. Mas ainda sonha vê-los, pela primeira vez, num concerto seu. “Eles acham que eu vou para o inferno por ser lésbica”, confessa. Outra ambição de Bia Ferreira, que começou por percorrer o Brasil a apresentar a sua música na rua, antes de um certo vídeo mudar a sua vida, é apresentar-se ao vivo em África, conhecendo o continente dos seus antepassados e levando até eles as suas experiências. Ativismo político, direitos LGBTQIA+, eleições brasileiras e o poder do afeto como “tecnologia de sobrevivência” são alguns dos temas abordados nesta longa entrevista, realizada numa esplanada em Lisboa, onde Bia Ferreira atuou no sábado no B.leza.

Apesar de já ter estado em Portugal várias vezes, o grande público ainda não a conhece bem. Nasceu há 29 anos no estado de Minas Gerais, depois viveu nos estados de Sergipe e São Paulo... como recorda a sua infância?
A minha infância foi muito lúdica. Eu venho da zona rural. Isso significa que morava num vilarejo com 200 habitantes e uma televisão, que ficava no campo de futebol. Todos os dias, às seis da manhã, ia um senhor abrir a casinha [onde estava o aparelho] e quem queria ver televisão tinha de ir ao campo de futebol e ficar lá parado a ver. Às dez da noite fechava a casinha e só no outro dia [havia mais televisão]. Então não tínhamos muito acesso a televisão, até porque os senhores que iam lá eram mais velhos, bêbedos. A minha mãe não nos deixava ir. Brincava muito: jogava à bola, montava quebra-cabeças, aprendi idiomas... porque, como os meus pais são missionários, recebíamos muitas pessoas de fora do Brasil, que iam para lá fazer missões. Nesse processo, fomos aprendendo outros idiomas para comunicar com essas pessoas que recebíamos. Aprendi a falar inglês, espanhol... estudei música. Porque os meus pais trabalhavam como missionários e na igreja é sempre preciso haver músicos, oradores. Eu tive aulas de oratória, aprendi a falar em público. Aprendi a tocar instrumentos musicais... então a minha infância foi muito lúdica. Lá em casa somos seis filhos. Sempre tive amigos: eram os meus irmãos, e até hoje somos muito próximos.

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