14 agosto 2022 21:20

JD Beck e DOMi (esq.-dir.)
Os guardiões do templo já tremem: uma teclista francesa de 22 anos e um baterista americano de 19 agitam o jazz com “Not Tight”
14 agosto 2022 21:20
Será relativamente fácil imaginar Wynton Marsalis a acordar com suores frios provocados por um pesadelo em que Domi & JD Beck são figuras centrais. A primeira, teclista, completou 22 anos no passado mês de março e, portanto, já poderá beber uma cerveja ao balcão de qualquer um dos clubes de jazz por onde se vai apresentando nos Estados Unidos, mas o segundo, baterista, com apenas 19 anos feitos em maio último, ainda terá de esperar mais um pouco para fazer o mesmo. Juntos, Domi & JD Beck são a mais recente contratação da histórica Blue Note, etiqueta que pelo menos até finais dos anos 50 do século passado editou o tipo de música que Marsalis se tem esforçado por musealizar com a sua conservadora abordagem à gestão do Lincoln Center.
Num muito citado artigo publicado no “New York Times” em 1988 — “What jazz Is, and Isn’t” —, Wynton Marsalis procurou estabelecer um enquadramento ético, histórico e formal para tornar mais percetível o que seria merecedor de ser classificado como jazz, segundo ele uma música que “quebrou as regras das convenções europeias e criou regras próprias que eram tão específicas, tão minuciosas e tão exigentes que resultaram numa grande arte”. Tudo certo. Tentar definir com precisão o que seriam essas “regras próprias”, no entanto, tem levado muitos gatekeepers a traçarem linhas no chão da História, acreditando que depois de uma qualquer data específica, talvez 1959, quando Miles lançou “Kind of Blue”, essa música passou a ser outra coisa. Por exemplo, há quem se revele incapaz de admitir que o jazz se pode tocar com instrumentos elétricos ou eletrónicos. Imagine-se não se poder classificar como escultura todas as peças que possam ter sido concebidas usando ferramentas modernas... Adeus, Anish Kapoor.