6 setembro 2008 14:29
Na semana em que começam os Jogos Paralímpicos o Expresso dá a conhecer os seis atletas portugueses favoritos, das seis modalidades que estão em Pequim. Bruno Valentim, portador de uma doença degenerativa, soma medalhas no boccia.(Visite o dossiê dos Jogos Paralímpicos)
6 setembro 2008 14:29
Voltar a fazer desporto já com trinta e tal anos foi a maior conquista de todas. Até 1996 o boccia era um jogo exclusivo da paralisia cerebral. Depois passou a integrar doenças degenerativas e aproveitei. Em 1998 foi o primeiro mundial da minha classe, o BC4, e fiquei logo no primeiro lugar. A partir daí nunca mais parei. Com o desporto começamos a ver outras pessoas com deficiência e saímos da nossa caixinha. Percebemos que não fomos os únicos a ter um azar na vida e há quem esteja em situações bem piores. Estamos a viver das sobras. O boccia começou pelas associações de paralisia cerebral, com professores e pavilhões pagos, condições que estão a acabar. Não há auxiliares suficientes, cada vez se contratam menos professores. Não se fazem omeletas sem ovos. Um dia vamos cair e vão dizer: 'Ah, afinal eles não ganham assim tantas medalhas'. Vamos ter nos virar para os patrocínios privados o que nesta modalidade é muito complicado. Os desportos mais "in" como a vela e a equitação têm mais facilidade. Depois há também o problema da mentalidade dos nossos governos. Retrógrada. Ainda não conseguiram saltar da discriminação com as pessoas deficientes. Estar nos Jogos dá-nos uma pequena visão do que é o grande mundo do desporto de competição. Quando se acende a chama quase todos têm um nó na garganta. Há quem chore. Não há diferença entre ser olímpico ou paralímpico. Em Pequim vou lutar por duas medalhas de ouro que da última vez me escaparam. Sou neste momento o segundo lugar do ranking e durante dez anos fui o primeiro. O ouro é o meu dever.