7 fevereiro 2011 11:00
Onde é que se paga mais a um gestor de topo? No Brasil, segundo o organismo profissional Association of Executive Search Consultants (AESC).
7 fevereiro 2011 11:00
Dois inquéritos recentes, um do AESC e outro da rede empresarial brasileira Dasein Executive Search, concluíram que os presidentes do conselho de administração e diretores de empresas ganhavam mais em São Paulo, a capital empresarial do Brasil, do que em Nova Iorque, Londres, Singapura ou Hong Kong (ver gráfico).
Os dois inquéritos compararam os salários-base mas, no Brasil, os prémios também são generosos, diz David Braga, da Dasein. E a comparação minimiza os custos de contratação no Brasil: os impostos sobre os salários incluem-se entre os mais altos do mundo.
A razão destes desmedidos salários dos administradores reside em parte na crescente procura de pessoal, a todos os níveis. O Brasil, a China e a Índia estão a registar um forte crescimento do emprego. Mas, segundo a agência de recursos humanos Manpower, a diferença entre oferta e procura é mais acentuada no Brasil, onde 64% dos patrões declaram ter dificuldade em preencher vagas, em comparação com 40% na China e 16% na Índia. Os gestores com formação técnica são particularmente escassos no Brasil: as descobertas da indústria petrolífera e os planos de infraestruturas significam que a procura está a aumentar mas o Brasil forma apenas 35.000 engenheiros por ano, em comparação com 250.000 na Índia e 400.000 na China.
A solidez do real estimula artificialmente a posição do Brasil nas comparações internacionais de salários. Mas, mesmo em reais, os salários dos administradores estão a aumentar anualmente em percentagens de dois dígitos, afirma Edilson Câmara, da empresa de recrutamento de executivos Egon Zehnder. Na China e na Índia, os gestores de topo estão a conseguir rendimentos semelhantes, mas a partir de uma base mais baixa. Muitas multinacionais que costumavam gerir as suas operações sul-americanas a partir de Miami, da Cidade do México e de Buenos Aires mudaram-se para São Paulo. As operações na China e na Índia ainda são, em vários casos, geridas a partir de Singapura ou de Hong Kong, embora Xangai esteja a tornar-se mais popular. A vaga de aquisições estrangeiras e as incursões de empresas brasileiras no estrangeiro fizeram aumentar a procura de gestores com experiência internacional.
A solução é cultivar os talentos nacionais, diz Alexander Triebnigg, que dirige a filial brasileira da empresa farmacêutica suíça Novartis. Os funcionários brasileiros costumam ser leais, acrescenta, o que quer dizer que as empresas reputadas com planos de progressão de carreiras generosos são menos atingidas pela escassez de pessoal qualificado. Contudo, essa lealdade também tende a inflacionar os valores de mercado. "Quem quiser aliciar um brasileiro para mudar de emprego, tem de lhe oferecer muito mais dinheiro", afirma Triebnigg. "Na China, as pessoas mudam de emprego por apenas um pouco mais".
Muitas empresas procuram no exterior quadros para preencher cargos de topo. No entanto, a elevada taxa de criminalidade (São Paulo é uma cidade muito mais segura do que costumava ser mas ainda tem uma taxa de homicídios de quase o dobro da de Nova Iorque) e a necessidade de dominar o português dissuadem muitos estrangeiros. E mesmo as grandes empresas brasileiras podem não ter o renome internacional necessário para atrair os mais ambiciosos. "As pessoas muito ocupadas podem não dar ouvidos ao que temos para lhes dizer sobre a complexidade e a dimensão de uma empresa brasileira de que nunca ouviram falar", lamenta Edilson Câmara.
Quem mais deverá beneficiar da caça aos talentos que o Brasil está a desenvolver são os seus gestores expatriados. David Braga, da Dasein, diz que, na origem da sua análise dos salários, estiveram os cerca de dez pedidos de informação espontâneos que a sua empresa recebe diariamente de brasileiros que vivem no estrangeiro e que estão a pensar em voltar ao seu país - ainda que muitos deles considerem, erradamente, que o regresso significaria um ordenado menor.
(c)2010 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados. Em The Economist, traduzido por Fábrica do Texto para Impresa Publishing, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com
Texto publicado no caderno de economia do Expresso de 5 de fevereiro de 2011
