2 janeiro 2014 23:06
Declarações do presidente do BCE levaram a novos mínimos históricos nos juros da dívida dos periféricos e a juros negativos pela primeira vez nas obrigações alemãs a 5 anos. Juros das Obrigações do Tesouro fecham em 2,45%.
2 janeiro 2014 23:06
A tendência de 2014 de descida no mercado secundário para mínimos históricos no custo de financiamento da dívida dos membros da zona euro, com exceção da Grécia, continuou nesta primeira sessão de 2015.
As yields das Obrigações do Tesouro português (OT) no prazo de referência a 10 anos desceram 24 pontos base em relação ao fecho de 2014, registando 2,45%, um novo mínimo histórico.
Também Espanha, Itália e Irlanda fixaram novos mínimos históricos nas yields das obrigações a 10 anos. A maior descida de juros na sessão de hoje registou-se para as yields das obrigações gregas que caíram 34 pontos base, fechando em 9,26%.
O prémio de risco em relação à dívida alemã desceu 30 pontos base para a Grécia e 19 pontos base para Portugal. A rentabilidade nas últimas 52 semanas da dívida obrigacionista portuguesa mantem-se na liderança, tendo subido para 22,3%, segundo o índice da Bloomberg.
Um facto marcante, assinalado pelos analistas, foi a descida para terreno negativo, pela primeira vez, das yields das obrigações alemãs a 5 anos, que fecharam em -0,003%. Só a Suíça regista taxas negativas nas obrigações naquele prazo. Os investidores pagam, agora, para deter dívida obrigacionista alemã em cinco prazos: 12 meses, dois, três, quatro e cinco anos.
Refira-se que a dívida de longo prazo de Portugal entrou em 2015 mantendo a classificação de especulativa (vulgo "lixo financeiro") por parte das três principais agências mundiais de rating, o que afasta muitos fundos de investimento e de pensões. O limiar para o investimento ser considerado não especulativo é de BBB- ou Baa3. As notações sobre a dívida portuguesa são de BB segundo a Standard & Poor's (S&P), BB+ segundo a Fitch e Ba1 segundo a Moody's. A dívida portuguesa foi desgraduada para o nível especulativo em 5 de julho de 2011 pela Moody's, em 24 de novembro do mesmo ano pela Fitch e em 13 de janeiro de 2012 pela S&P.
Os estudos empíricos mostram que, quando um país é desgraduado para terreno de dívida especulativa, a saída dessa situação pode estender-se por um período longo. Ou seja, o ciclo de notação é profundamente assimétrico, com cortes de rating muito mais rápidos e de maior amplitude, do que o que ocorre nas subidas.
Risco de não cumprir mandato do BCE é mais elevado
A descida das yields para novos mínimos históricos ocorreu depois de publicada uma entrevista do presidente do Banco Central Europeu (BCE) ao jornal financeiro alemão "Handelsblatt", em que Mario Draghi garante que o banco que dirige está preparado para avançar com um programa de compra de "alívio quantitativo" (quantitative easing, em inglês, acrónimo QE).
"Estamos a realizar as preparações técnicas para ajustar a dimensão, a velocidade e a composição das nossas medidas no começo de 2015, no caso de ser necessário reagir a um muito longo período de baixa inflação", disse o italiano, sublinhando que "o risco de não cumprirmos o nosso mandato de estabilidade de preços é agora mais elevado do que seis meses antes". Draghi respondeu, ainda, que a compra de dívida soberana é um dos instrumentos que o BCE pode usar, mas que o financiamento direto dos Estados membros não é permitido. A próxima reunião do BCE realiza-se a 22 de janeiro, três dias antes das eleições legislativas antecipadas na Grécia, um dos primeiros momentos eleitorais críticos do ano de 2015 na União Europeia.
A primeira indicação formal de que o tema de um programa de QE tinha motivado uma discussão "rica" na reunião do BCE foi feita por Draghi na sequência da reunião do conselho a 3 de abril de 2014. Apesar da tensão geopolítica motivada pela crise da Crimeia em abril, Irlanda, Espanha e Itália fixaram, então, mínimos históricos nas yields da dívida a 10 anos e as yields das OT desceram abaixo de 4%. O IGCP, a agência de gestão da dívida portuguesa, realizou em abril o primeiro leilão de obrigações a 10 anos desde o início do resgate e pagou uma taxa de remuneração média de 3,575%.
Preço do petróleo continua a descer
A contínua descida do preço do petróleo que gera uma desinflação importada nas economias da zona euro preocupa o BCE. A inflação anual da zona euro em novembro desceu para 0,3%. O valor de dezembro será divulgado pelo Eurostat a 7 de janeiro. As previsões dos analistas apontam para uma inflação anual negativa, o que ocorrerá pela primeira vez desde junho de 2009, ano em que a inflação negativa se manteve durante cinco meses.
O preço do barril de Brent voltou esta sexta-feira a descer pela 13ª semana consecutiva, fechando em 56,44 dólares em Londres, com uma amplitude de variação diária entre 55,49 dólares (um novo mínimo desde abril de 2009) e 58,54 dólares. O preço fechou 2014 em 57,33 dólares, uma quebra de 46% em relação ao final de 2013.
Esta sexta-feira o Ministério da Energia russo informou que o país registou em 2014 um recorde de produção média de 10,58 milhões de barris por dia (mbd), com a produção em dezembro a subir para 10,66 mbd. Uma informação que se soma ao facto de que a OPEP está a produzir 250 mil barris por dia acima da quota auto-fixada (e que vigora até 5 de junho de 2015) e que os EUA atingiram uma produção de 9,14 mbd a 12 de dezembro, o nível mais elevado desde 1983. A produção média dos EUA em 2014 foi de 8,6 mbd, segundo a EIA (Energy Information Administration, a entidade oficial de estatísticas de energia).