Fundos de investimento

Fundos que fazem mais com menos

1 julho 2008 0:00

Joaquim Madrinha

Fundos que fazem mais com menos

Descobrimos um rácio que revela quais os fundos de investimento mais económicos. Saiba se o seu é um deles ou se está na altura de trocá-lo

1 julho 2008 0:00

Joaquim Madrinha

Ganhar mais do que o intermediário financeiro deve ser uma regra de ouro para qualquer investidor. É nessa óptica que muitos pequenos investidores recorrem aos fundos de investimento. Através destes instrumentos de poupança conseguem-se poupar nas comissões de transacção e de custódia de títulos e ter acesso a uma gestão profissional. No entanto, os fundos de investimento também têm custos. Não se sentem porque o valor da unidade de participação já os inclui - impostos, também -, mas existem e, segundo uma análise da Carteira a 75 fundos de 6 classes distintas, em alguns casos a taxa global de custos quebra mesmo a regra de ouro mencionada. Será que o seu fundo trabalha mais para a sociedade gestora que o criou do que para si?



A taxa global de custos (TGC) resulta do quociente entre a soma de vários custos - comissões de gestão e de depósito, taxa de supervisão, custos de auditoria e outro tipo de custos operacionais, excluindo custos de transacção e impostos - e o valor líquido global do fundo. Complicado? Não se preocupe. O valor está nos prospectos simplificados dos fundos, e quando utilizado em conjunto com a rendibilidade - R/TGC - dá origem a um rácio capaz de aferir o grau de economia da gestão do seu fundo.



Rendibilidade ≠ economia

O BPI Portugal, o fundo de acções nacionais da BPI Gestão de Activos, que se ficou pela terceira maior taxa de rendibilidade média no período analisado - 21,38 por cento - gerou 16,62 euros por cada euro pago em custos pelos seus participantes. Ou seja, rendibilidade por si só não significa economia. Como se pode ver, apesar de ter rendido, em média, menos 2,45 por cento por ano, o facto de ter registado uma TGC média 36 por cento inferior à cobrada pelo Santander Acções Portugal, torna o fundo da BPI Gestão de Activos no mais económico da classe de acções nacionais.



Um estudo realizado pela Morningstar, uma empresa norte-americana de rating de fundos, revelou que o peso dos fundos de baixo custo - fundos de índice e fundos cotados - nos portefólios dos pequenos investidores está a aumentar. O superior desempenho dos fundos índice e dos fundos cotados face ao dos tradicionais fundos de investimento com custos mais elevados, no período de 2000 a 2002, quando os mercados accionistas sofreram uma queda acentuada, foi uma das razões apontadas pelos inquiridos. Afinal, quanto mais elevadas forem as comissões dos fundos, melhor tem de ser a gestão, para evitar que o fundo renda menos que o índice de referência.



ETF não convencem gestoras nacionais

Sabendo da mudança de comportamento dos investidores, as sociedades gestoras a operar nos Estados Unidos da

América têm vindo a diminuir os custos de gestão e de depósito dos fundos. De acordo com a Morningstar, entre 2003 e 2006, a taxa de custos média dos fundos de investimento à venda nos EUA diminuiu de 1 para 0,9 por cento mas, por cá, nem por isso. Apesar da invasão dos fundos cotados, também conhecidos como exchange-traded funds (ETF), que têm comissões inferiores às dos fundos de investimento tradicionais, foram poucas as sociedades gestoras que desceram os custos imputados aos subscritores. Das 6 classes estudadas, somente na de acções internacionais e na de acções europeias é que se verifica uma ténue descida da TGC média e, mesmo assim, não de uma forma generalizada. Por exemplo, nesta última, parte da descida verificada na TGC média do período ficou a dever-se ao fundo Raiz Europa, que de 2004 para 2005 diminuiu a TGC de 2,75 por cento para 1,75 por cento.



A análise revela também que não há uma sociedade gestora mais barata que as outras. Ou seja, devido à diferenciação de custos aplicada pelas sociedades gestoras aos fundos de investimento de acordo com a classe, um investidor que queira ter em carteira os 7 fundos nacionais de acções mais económicos tem de ter conta num supermercado de fundos, porque precisa de ter acesso a fundos de 6 sociedades gestoras distintas. Por exemplo, quem tiver conta no Banco Espírito Santo tem acesso ao fundo de acções norte-americanas mais económico, mas se quiser investir em acções portuguesas terá de contentar-se com o mais caro ou abrir conta num banco que lhe permita acesso ao BPI Portugal.

Fundos de obrigações quebram regra de ouro

Os rácios de economia dos fundos da classe de acções nacionais são mais elevados que os restantes, mas não se deixe impressionar. Apesar de quanto mais longe for o mercado-alvo do fundo maior é a TGC, foi a rendibilidade superior do mercado accionista nacional face aos mercados estrangeiros que mais contribuiu para o elevado rácio dos fundos de acções nacionais. Na classe de fundos de acções da Europa, o Montepio Acções também beneiciou do desempenho do mercado accionista nacional, uma vez que investe 50 por cento do portefólio em acções portuguesas. No entanto, é também o fundo da classe com a menor TGC: 1,53 por cento. Aliás, se pretender um fundo económico que tenha uma carteira mais europeia, o Montepio Acções Europa, é a segunda alternativa mais em conta. Nenhum fundo de acções quebra a regra de ouro já mencionada, o que já não acontece nos fundos obrigacionistas. Nos fundos de obrigações de taxa variável e de taxa fixa, o valor médio da TGC é cerca de 50 por cento inferior ao valor médio cobrado nos fundos de acções, mas as rendibilidades são ainda menores. O rácio de economia do Banif Euro Obrigações Taxa Fixa é um bom exemplo. Por cada euro consumido em comissões e em custos, a equipa de gestão do fundo conseguiu criar apenas 2 cêntimos. Ou seja, ganhou mais que os subscritores do fundo e não foi por cobrar um TGC elevada, mas sim devido às rendibilidades negativas registadas em 2006 e 2007.