15 fevereiro 2014 22:25
Apesar de só estar no Irão há duas semanas, o "mágico" Toni conseguiu levar o Tractor a conquistar a primeira Taça da sua história. "Sou um treinador e não o Luís de Matos", graceja.
15 fevereiro 2014 22:25
A primeira tentativa de falar com Toni não correu bem. Afinal, o Tractor tinha acabado de conquistar a sua primeira Taça do Irão e os festejos foram de arromba. "Se não falarmos hoje falamos amanhã, pois em Tabriz deve estar uma loucura", dizia Toni ao Expresso sexta-feira à noite, por mensagem, antes de entrar no avião.
A final da Taça (também conhecida como Hazfi Cup) disputou-se em Kerman, na casa da equipa local, o Mes - o outro finalista da prova -, a cerca de 1600 quilómetros de Tabriz, cidade que acolhe o Tractor. Por isso mesmo, a viagem de avião até casa foi longa e entrou pela noite dentro, mas Toni tinha razão. "Fomos recebidos por milhares de pessoas no aeroporto, uma loucura", conta ao Expresso, já hoje, também a horas pouco próprias, perto da meia-noite local.
"Não tem problema nenhum", repete o técnico, conhecido pela sua afabilidade, após as desculpas da jornalista pela hora tardia. "Veja lá, há uns dias estava no 'Playoff' da SIC [Notícias], nem imaginava que ia estar aqui", começa por dizer.
"Sou um treinador e não o Luís de Matos"
Apenas duas semanas depois de regressar ao Irão, onde já tinha estado há oito meses, Toni fez história pelo Tractor. Ao contrário do técnico português, cujo palmarés conta com dois títulos de campeão pelo Benfica, uma Taça de Portugal e ainda uma Supertaça egípcia (já para não falar dos títulos como jogador), o Tractor tinha a sala de troféus praticamente vazia.
"Chegámos e passámos a meia-final [vitória sobre o Foolad, 2.º classificado do campeonato, por 1-0] e estávamos perto de conquistar um troféu inédito. Nós o que trazemos na bagagem é profissionalismo e competência, e a relação que ficou estabelecida com os adeptos foi muito forte. Por isso foi preciso passar a mensagem que sou um treinador e não o Luís de Matos", explica o "mágico" de 67 anos.
"Não fizemos mais de dez treinos, pelo que os factores motivacionais foram fundamentais", conta, espalhando modéstia. "São os jogadores que jogam, o treinador é um orientador, um gestor de emoções. Estes jogadores foram enormes, representaram não só um clube, mas uma cidade."
Benfica, Benfica, Benfica
A ligação de Toni ao Tractor e a Tabriz é palpável, mesmo numa chamada telefónica com vários segundos de atraso a complicar a conversa. Aliás, não só ao Tractor e a Tabriz, mas também ao inevitável Benfica, que Toni refere vezes sem conta enquanto vai falando. "Parece que foi a primeira vez que fui campeão. É sempre bom, porque transporta-nos para outros sítios, para o passado, para o Benfica, onde fui feliz como jogador e treinador", refere.
"Quando chegámos ao aeroporto tínhamos um palanque para a festa e havia uma 'mancha' vermelha - o Tractor também equipa de vermelho, como o Benfica. Para mim os adeptos do Benfica são eternos, mas os do Tractor também me vão deixar marcas", confessa.
A dedicação de Toni ao clube é louvada localmente, mas é possível que uma mulher em Portugal às vezes não lhe ache muita graça. "Veja que eu até me esqueci que era Dia dos Namorados", admite, entre gargalhadas. "Há uma paixão tão grande que acontecem estas coisas. Mas claro que há mais vida para além do futebol", acrescenta, antes de dizer que já se tinha inteirado dos estragos do mau tempo em Portugal.
"Você pode querer ser diretora do Expresso"
Toni, que está no Irão com o filho, que também faz parte da equipa técnica do Tractor, não sabe quando regressará, ainda que a época e o contrato estejam ambos a acabar. "No campeonato estamos em sexto lugar e já não conseguiremos chegar ao título, quando faltam quatro jornadas. Na Liga dos Campeões Asiática vamos começar a fase de grupos, mas os nossos adversários são financeiramente e tecnicamente mais fortes do que nós. Portanto o jogo da nossa época foi o da Taça", explica.
"Depois temos tempo para ver o que vai acontecer. Você pode querer ser diretora do Expresso, ou eu ser campeão do mundo, mas é preciso ver os meios que temos para chegar a isso. É nesta lógica que estou. Se me quiserem prolongar o contrato e houver meios e objetivos comuns... O Irão é um país com futuro. E as pessoas conhecem-me e tratam-me bem", assegura.
A meio das despedidas, como não podia deixar de ser, a conversa volta ao Benfica. Mas, desta vez, por culpa da jornalista. "Estava a ver o Sporting-Olhanense", atira Toni. E o Benfica-Sporting, não viu? "Não vi porque estava em estágio em Teerão, mas já sei que foi um grande jogo e que o Benfica foi melhor", assegura o adepto, que acompanha os jogos todos e vê o título como um objetivo muito possível.
Pelas redes sociais, houve quem gracejasse ontem que o Benfica tinha conquistado a primeira Taça do Irão do seu palmarés. Toni não consegue conter as gargalhadas. "Está bem visto. Eles aqui sabem todos da minha grande ligação ao Benfica. Aliás, estava em Portugal quando o Eusébio morreu e aqui souberam disso e homenagearam-no através das redes sociais, com uma fotografia comigo e com uma águia", conta, com orgulho, o treinador do "glorioso"... Tractor.