6 maio 2014 11:29
Fábio Faria começou no FC Porto, passou para o Rio Ave e acabou no Benfica. Mora em Vila do Conde, mas é benfiquista desde pequenino, tal como o pai, que também jogou no Rio Ave... e marcou ao Benfica numa final da Taça.
6 maio 2014 11:29
É difícil resistir ao impulso de começar uma entrevista com Fábio Faria incarnando o popular João Simão da Silva. Não, Simão da Silva não é nome de um histórico do Benfica, do Rio Ave, ou sequer do futebol português. É nome (o real, não o artístico) de um grande da música portuguesa. "Eu tenho dois amores, que em nada são iguais, mas não tenho a certeza, de qual eu gosto mais", cantava ele nos anos 80.
Ele era, claro, Marco Paulo, mas também podia perfeitamente ser Fábio Faria. O ex-jogador não tem como talento escondido cantar (desenha roupa), mas tem dois grandes amores que dominaram a sua carreira: o Rio Ave e o Benfica.
O defesa, agora com 25 anos, passou três épocas em Vila do Conde e mudou-se para a Luz em 2010, pela mão de Jorge Jesus. Retirou-se oficialmente do futebol no ano passado, depois de um problema cardíaco, mas continua a seguir atentamente - agora como adepto - os seus dois amores. Mas não sabe por quem torcer na final da Taça da Liga, esta quarta-feira (20h30, TVI).
O que anda a fazer agora, Fábio? Entrei na universidade, estou a tirar um curso de gestão do desporto. E também criei uma marca de roupa.
Nada a ver com futebol, portanto. É diferente. Toda a gente me diz que tenho jeito para desenhar roupa. Já quando jogava gostava de ser diferente, rasgava as minhas camisolas para ficarem ao meu gosto. Para já está a correr bem, temos um showroom em Vila do Conde. É a D' Ja Vu. Dê, apóstrofo, já viú [soletrou].
Vila do Conde, casa do Rio Ave. Exacto, moro em Vila do Conde.
E na quarta-feira é do Rio Ave ou do Benfica desde pequenino? Na realidade é uma pergunta mesmo muito difícil para mim [risos]. São duas equipas de que gosto muito, fizeram parte da minha carreira e da minha vida de uma maneira muito especial. Acima de tudo acho que vai ser um grande jogo, mas como o Benfica já ganhou quatro Taças da Liga acho que era giro o Rio Ave ganhar.
Como também vão jogar a final da Taça de Portugal, pode ser uma taça para cada um então. Assim é que eu ficava mesmo contente, porque não ficava nenhum dos clubes muito triste. Até porque o mister [Jorge] Jesus tem o sonho de ganhar a Taça de Portugal há muitos anos e ainda não conseguiu, apesar de ter estado em duas finais.
Quem também esteve numa final da Taça de Portugal foi o pai do Fábio, Chico Faria, que também jogou no Rio Ave. É verdade, o meu pai é benfiquista e marcou um golo contra o Benfica. Ele jogava no Belenenses na altura, foi em maio 1989, tinha eu nascido há um mês. Claro que ele falava muito disso, quando eu era novo mostrou-me vídeos, foi o ponto mais alto da carreira dele.
Deve ter mexido com ele, marcar com o clube do coração. Mexe sempre um bocadinho, mas falo por mim, quando entrava em campo era sempre a dar tudo pela minha equipa sem pensar em mais nada. Agora ele, não faço a mínima se quer que ganhe o Benfica ou o Rio Ave (risos).

Fábio Faria esteve no Rio Ave entre 2007 e 2010 (e em 2012, por empréstimo do Benfica)
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Então na família Faria é tudo Benfica? Não, a minha mãe e a minha irmã, as mulheres da família, são portistas. A minha irmã é mais nova do que eu três anos e apanhou aquela fase em que o FC Porto ganhava tudo...
O Fábio também jogou na formação do FC Porto. Joguei três anos no FC Porto, sim.
E dizia que era benfiquista? Nem pensar, não contava a ninguém na altura. Tinha de ser assim se não era capaz de nem jogar. Aliás, a primeira vez que fui lá treinar tinha uns calções vermelhos e disseram-me logo 'ou vens com calções de outra cor ou não treinas mais'. Começam logo desde cedo a incutir aquilo, é rijo. Houve outra vez que comprei umas chuteiras vermelhas e obrigaram-me a pintá-las de preto, disseram-me que aquela cor não era apropriada para ali.
Voltando à final, vai ser peaners [palavra que Jesus utilizou para dizer peanuts (amendoins), isto é, para exprimir algo fácil] para o Benfica? Não podem entrar com a mentalidade que já está ganho, porque o Rio Ave tem sido grande esta época, com o mister Nuno [Espírito Santo]. Ainda por cima eles estiveram a poupar no campeonato e vão estar fresquinhos, enquanto o Benfica pode estar mais cansado. Apesar de estar numa onda muito positiva.
O Benfica já venceu o Rio Ave duas vezes esta época, mas Jorge Jesus deve preocupar-se com que pontos mais fortes do adversário? Desde que o mister Nuno entrou há uma boa organização e jogadores com muita qualidade. Têm um contra-ataque muito forte, com jogadores que podem fazer a diferença na frente e no miolo.
Qual é o jogador de que mais gosta? É o Tarantini. É o capitão e é o único que ainda continua lá desde o meu tempo, tenho um carinho especial por ele. Espero que faça um golinho.
Diz-se que o Nuno Espírito Santo pode suceder ao Jesus, se este sair do Benfica. Seria uma boa escolha? Acho que sim e espero que sim. É um treinador de que gosto muito. Nesta fase mais triste da minha vida ele sempre me apoiou muito, perguntava-me sempre como estava. Como treinador tem métodos muito bons e tem uma personalidade forte, com mentalidade ganhadora. Aliás, vê-se pelas finais que vão disputar e pela vitória contra o Sporting de Braga. Se isso acontecer fico muito contente, porque acho que vai ter um grande futuro.
É parecido com Jorge Jesus? Não, são treinadores muito diferentes. Mas ambos percebem muito de futebol, isso sim. O mister Jesus merece tudo o que está a passar agora no Benfica, porque tem muita qualidade. E depois do ano que passou... Está agora a ter o que merece, finalmente.