ARQUIVO Desporto - Tribuna

Jesus, o coleccionador de inimigos

5 novembro 2009 9:45

Isabel Paulo (www.expresso.pt)

Manuel Machado, Domingos, Inácio, Azenha ... o treinador do Benfica cultiva ódios de estimação.

5 novembro 2009 9:45

Isabel Paulo (www.expresso.pt)

Manuel Machado está para Jorge Jesus, como Saramago para a Bíblia: não poupa nos adjectivos. Para ele, o treinador do Benfica é um cretino que masca pastilha elástica de boca aberta. E que lhe mostrou quatro dedos em riste quando o SLB lhe marcou outros tantos golos. Foi assim, 2ª feira, 26, no rescaldo do Benfica-Nacional e sabe-se lá como será esta noite em Braga. Se o verdadeiro Jesus multiplicava pães, o seu homónimo colecciona inimigos de estimação.

Domingos Paciência e Jorge Jesus, treinadores líderes da Liga, não vão estar apenas separados pelos 25 metros regulamentares que vão de um banco ao outro. Há um diferendo antigo a separá-los. O técnico do Braga já garantiu que não cumprimentará o treinador adversário "nem antes nem depois do jogo."

A rixa tem quatro anos, quando Jesus, então desempregado, disse, no camarote, ao presidente da União de Leiria que, com aqueles jogadores e o estreante Paciência no banco, a equipa estava condenada a descer de divisão.

A saída atribulada de Jesus, do Braga para o Benfica, as críticas de Domingos à condição física dos jogadores e o facto de o técnico encarnado ter respondido, reivindicando os louros da construção do plantel bracarense foram mais achas para o confronto da melhor defesa e domelhor ataque.

Domingos, 40 anos, nunca perdeu contra Jorge Jesus, que, aos 55 anos, tem enfim, treinando um grande, a oportunidade de ser campeão no relvado. Um feito que, ainda em Janeiro, ao leme do Braga, dizia "só ser possível na playstation". O desabafo fê-lo no final da derrota na Luz, (3-0) num jogo em que o Braga se queixou da arbitragem.

A ausência do aperto de mão de Domingos é o reflexo visível da lista negra de ódios que o treinador do Benfica vem acumulando ao longo da sua já longa carreira.

Em Maio, com a então equipa de Jorge Jesus (Braga) atrás da do Nacional, Manuel Machado tinha atacado: "Não estou online, nem sou o inteligente das tácticas... Mas não escondo que me dá um certo gozo ficar à frente de alguém tão especial, talvez o Especial 2 (ou seja uma espécie de Mourinho de segunda)".

Quem também não morre de amores pelo timoneiro da Luz é Carlos Azenha, acusado de "traidor" por não ter acompanhado "o mestre" quando este abandonou o Setúbal, há cinco anos. Dirimido em tribunal, o diferendo terminou, em Junho, com um acordo de cavalheiros, tendo Jesus feito mea culpa publicamente. Em Setembro, reencontraram-se na Luz sem as usuais saudações e para um contundente 8-1. Outro inimigo de longa data é Augusto Inácio, que "não cumprimentará" o colega de profissão quando, no próximo semana, a Naval se deslocar à Luz.

Texto publicado na edição do Expresso de 31 de Outubro de 2009