23 outubro 2009 10:07
Apesar da extensão do seu território abarcar quatro fusos horários, a China usa a mesma hora para todo o país como um símbolo de unidade nacional.
23 outubro 2009 10:07
Quem entrar no Afeganistão através da China comete uma dupla proeza: atravessa uma fronteira situada acima dos quatro mil metros e ganha três horas e meia, a maior diferença horária entre dois países vizinhos.
O território da China - o maior do mundo, a seguir à Rússia e ao Canadá - pode abarcar quatro fusos horários, mas a hora é a mesma em toda a sua extensão.
A uniformização da hora legal, vista como um símbolo de unidade nacional, foi uma das primeiras medidas adoptadas pelo Governo da República Popular da China, logo em 1949. Na altura, o país estava dividido em cinco fusos horários.
No entanto, cerca de 90 por cento da população vivia nas zonas rurais, onde o dia-a-dia é mais regulado pelo nascer e pôr-do-sol do que pelos relógios do governo.
"Manter em todo o país a hora de Pequim sai muito caro, do ponto de vista económico, mas nestes aspectos, que têm implicações ideológicas, o Partido Comunista Chinês ainda é muito rígido", explica à Lusa um analista ocidental radicado na capital chinesa.
Quando o sol nasce na costa leste da China, por exemplo, ainda é noite cerrada nas regiões autónomas do Xinjiang, junto à Ásia Central, no noroeste do país, ou no mítico Tibete, na cordilheira dos Himalaias.
A hora de Almaty, no vizinho Casaquistão, é UTC+6 (seis horas mais que o Universal Time Coordinated), enquanto na capital do Xinjiang, Urumqi, situada na mesma longitude, é UTC+8 - a hora de Pequim, que fica 3.800 quilómetros a oriente (mais do que a distância entre Lisboa e Paris).
As pessoas e os serviços estão, contudo, adaptados à hora solar e em vez de almoçarem às 11h30 ou ao meio-dia, como em Pequim, comem às 13h30 ou às duas da tarde.
Usar outra hora como afirmação de identidade
"Escolas, empregos, refeições, no Xinjiang é tudo mais tarde", conta uma turista em Pequim.
Trata-se de uma região de maioria muçulmana, rica em petróleo e gás natural, quase 15 vezes maior do que Portugal.
Os uigures, etnia de cultura turcófona e religião muçulmana, constituem cerca de 45 por cento dos 21 milhões de habitantes da região.
Para afirmar a sua identidade, alguns fazem questão de acertar os relógios pela hora solar e não pela hora de Pequim: "No Xinjiang, pode-se adivinhar a etnia de uma pessoa pela hora que o relógio marca", observa o antropólogo Ildik Beller-Hann.
Juntamente com a Índia, a China é o único grande país que tem apenas uma hora legal em todo o seu território. A vizinha Rússia, pelo contrário, tem 12 e o Canadá e os Estados Unidos têm seis.