3 outubro 2008 9:42
Cerca de metade dos portugueses continua considerar que vive num país seguro, mas há seis meses o número ultrapassava os 70%, indica o relatório do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.
3 outubro 2008 9:42
O número de pessoas que manifestam falta de confiança na segurança do país duplicou em seis meses, revelou hoje Garcia Leandro, com base num relatório do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) a que preside.
O relatório do OSCOT - que está em fase final de redacção e deverá ser tornado público ainda em Outubro - inclui um capítulo relacionado com a percepção de segurança dos portugueses, sustentado em 1.500 entrevistas efectuadas por aquela organização não-governamental, em Março, no continente e ilhas e repetidas em Setembro.
À pergunta "Acha que Portugal é um país seguro?", cerca de 50% dos entrevistados em Setembro respondeu afirmativamente, percentagem que em Março, seis meses antes, se situava "nos 70 e tal por cento", diz Garcia Leandro.
"Há duas leituras possíveis: uma é dizer que a confiança dos portugueses na segurança nunca desce dos 50%, outra que aumentaram duas vezes os que não têm confiança", observa.
Questionado sobre as possíveis causas, Garcia Leandro aponta, por um lado, a mediatização de alguns crimes - como o assalto à dependência do BES de Campolide ou à carrinha de transportes de valores na auto-estrada do Sul -, aliado ao "perigo de impunidade" de quem pratica crimes.
"A lei, o Estado, tem de criar mecanismos de dissuasão ou através das forças de segurança, ou através dos tribunais, para que nem sequer passe pela cabeça de um indivíduo cometer crimes", afirma.
"Se se verifica um, dois, três ou 20 casos em que os indivíduos não são julgados, não são punidos, resulta em impunidade e a impunidade dá um efeito de repetição, de mimetismo. E então aparecem os assaltos aos multibancos e postos de gasolina, que denotam muito amadorismo", frisa.
Garcia Leandro defende "acções por antecipação" das forças de segurança, nomeadamente "rusgas a bairros problemáticos". "Têm sido de algum modo criticadas mas parecem-me justificadas", opina.
O antigo director do Instituto de Defesa Nacional foi um dos oradores convidados da tertúlia Reacontece - subordinada ao tema do medo - que decorreu quinta-feira no Casino da Figueira da Foz, promovida pelo jornalista Carlos Pinto Coelho.
Durante a sessão revelou outros dados constantes no relatório, nomeadamente que os crimes contra o património e contra as pessoas são aqueles que mais preocupam os cidadãos.
O documento incluiu ainda perguntas "de carácter estrutural" - como a importância do ordenamento do território na segurança, considerada por 42% dos entrevistados ou a falta de confiança na Justiça e tribunais - "cujas respostas não se alteraram entre Março e Setembro".
No final da sessão, Garcia Leandro revelou que a opção de repetir, em Setembro, as entrevistas que constam do documento do OSCOT se ficou a dever ao anunciado aumento de 15% da criminalidade violenta no primeiro semestre de 2008, consubstanciado, disse, em fenómenos como o 'carjacking'.
Por outro lado, sustentou, nos números do 1.º semestre revelados pelo gabinete do Ministro da Administração Interna (MAI) "não entravam os meses de Julho e Agosto, que foram os mais violentos".
"Ora, nós não podíamos publicar um relatório baseado apenas nas sondagens de Março.Tivemos de fazer outras em Setembro para podermos comparar, senão era uma falta de credibilidade total", argumentou.
Garcia Leandro, que sucedeu ao ministro da Administração Interna, Rui Pereira, na presidência do Observatório de Segurança, afiança, no entanto, que o MAI "conhece os passos todos" que levaram à elaboração do relatório.
"Há pessoas do gabinete dele que fazem parte do OSCOT, são sócios. Todos os dados, projectos e sondagens vão ser entregues ao gabinete do senhor ministro", remata.