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Milhares de pessoas protestam com tachos e panelas nas ruas do Quebec

27 maio 2012 22:33

Anabela Natário (www.expresso.pt)

O Quebec, a província francófona do Canadá, está em polvorosa. Milhares de pessoas têm saído à rua contra uma lei que consideram limitar a sua liberdade e ao lado dos estudantes que estão em luta há mais de três meses.

27 maio 2012 22:33

Anabela Natário (www.expresso.pt)

Hoje, a polícia de Montreal atuou com alguma parcimónia e só deteve quatro pessoas entre as dezenas de milhares que, mais uma vez, invadiram a maior cidade da província do Quebec para clamarem contra uma nova lei que restringe a liberdade de manifestação. Mas, na noite de quarta-feira, prendeu 694 e multou outras 506 por reunião ilegal.

 

Há 42 anos que os quebequenses não assistiam a um tão grande número de detenções de uma só vez, desde que, em 1970, quando vigorava uma "lei de guerra", foram presas 497 numa tentativa de conter o movimento separatista desta província do Canadá. 

Segundo a polícia, todas as pessoas detidas - 518 em Montreal, praticamente de uma só vez, 170 na cidade do Quebec, a capital, e os restantes em outras cidades da província -  foram libertadas na manhã de quinta-feira. 

 

Neste domingo, milhares de pessoas saíram à rua tocando panelas, tachos, frigideiras, tambores... e houve até quem montasse uma bateria, numa via de Montreal, para incentivar o ruído de protesto. "O barulho das nossas panelas são os gritos de um povo com raiva", lia-se num cartaz, segundo o jornal "The Gazette".

Na quarta-feira, só em Montreal manifestaram-se 250 mil pessoas, mas a iniciativa de assinalar os 101 dias de luta dos estudantes - um terço está em greve por tempo indeterminado - contra o aumento de 75% das propinas estendeu-se, tal como hoje, às principais cidades da província do Canadá, onde se fala francês. 

 

A nova lei "Bill 78" surgiu precisamente para tentar estancar o movimento estudantil, mas surtiu o efeito contrário. Estudantes que até aí não tinha aderido, puseram-se ao lado dos grevistas, assim como milhares de outros cidadãos que consideram que a legislação atenta contra os direitos constitucionais. 

 

As manifestações, que se realizaram toda a semana, além dos tachos e panelas, têm sido marcadas por alguma criatividade até fora das ruas, como sucedeu nas estações de metro, onde estudantes vestidos de vermelho, cor que aditaram para os protestos, se posicionaram em intervalos iguais ao longo da plataforma. E dão concertos, fazem performances, passam vídeos, conforme a área de estudo de cada um.

 

No sábado, como noticiou o "The Gazette", uma manifestante optou por andar de bicicleta completamente nua, apenas calçando um par de sapatos. "A mulher, que não quis identificar-se, disse que estava ali para apoiar os estudantes contra o aumento das propinas e contra a 'Bill 78'", relatou o jornal quebequense.

 

"As autoridades devem suspender esta lei, enquanto não acontecer algo irremediável. A verdade é que eles podem ferir gravemente alguém ou até atingir mortalmente. Ninguém quer que tal aconteça, mas não temos outra saída", disse um manifestante citado pelo jornal "O Globo".

 

O "Globo" ouviu ainda a presidente da Federação Estudantil Universitária de Quebec acerca do facto de já se chamar de "Primavera Érable" à luta estudantil. "É claro que este movimento não pode ser comparado à Primavera Árabe. Mas inscreve-se nesse contexto, porque é também um movimento em que as pessoas querem expressar a sua voz, tendo dado-se conta de que é melhor agir em conjunto", afirmou Martine Desjardins.