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Julião Sarmento regressa a Serralves com Noites Brancas

23 novembro 2012 8:26

Valdemar Cruz (www.expresso.pt)

Museu anuncia a mais completa retrospetiva da obra do artista Julião Sarmento até agora realizada. A inauguração é hoje.

23 novembro 2012 8:26

Valdemar Cruz (www.expresso.pt)

Para lá das disputas de grandeza subjacentes a uma afirmação como aquela, o importante a registar é que, com "Noites Brancas", Sarmento abre novas portas, novas possibilidades de leitura de uma obra já longa e sempre marcada pela disponibilidade de, em cada momento, usar os suportes e as linguagens que a arte lhe oferece.

Como diz João Fernandes, diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, e comissário desta exposição - a última que comissaria enquanto responsável pelo Museu - "muitos dos seus quadros, desenhos, fotografias e filmes são como janelas para um universo contido dentro de portas, a partir de uma particular teatralização da imagem do corpo feminino". Isto porque "é dentro de casa que encontramos o abrigo, o quarto, o corpo, a mesa, as cadeiras presentes em tantas obras do artista".

Duas casas alentejanas

Duas casas com cariz arquitetónico alentejano são, para quem chega ao Museu, o primeiro contacto com a mostra de Sarmento. No pátio exterior à entrada principal estão instaladas duas casas, em escala reduzida, mas não em miniatura. Uma banda sonora estabelece ligações entre os dois edifícios concebidos em colaboração com o escultor Juan Munõz.

A casa acaba por ser uma presença recorrente ao longo da exposição, como quando numa sala aparecem fotografias e projetos de todas as residências onde o artista já viveu, ou uma outra que revela a transição para a dimensão pictórica e mostra fotos dos quartos que acolheram Julião Sarmento até a realização daquela obra, intitulada "1947".

De casas se fala ainda quando aparece uma maquete feita a partir da planta da casa de Wittgenstein concebida por Adolf Loos. Foi uma das propostas do co-curador da mostra, James Lingwood, e permite, além de acentuar esse fascínio de Sarmento pelo objeto casa, e pelos seus múltiplos significados, criar um novo espaço para a exposição de obras do artista.

 A erotização do corpo feminino

João Fernandes sublinha que "a casa e a arquitetura são, para Julião Sarmento, uma forma de assumir o que possa acontecer dentro desse espaço. É aí que se sente a erotização do corpo feminino".

Pintura, desenho, publicações de artista, cinema, vídeo, texto, tudo faz parte, em separado ou em conjunto, da obra desenvolvida ao longo das últimas décadas por Julião Sarmento. De resto, a grande sala à entrada do circuito expositivo é ocupada com três filmes, dois deles da década de sessenta - "Sombras" e "Faces" - e um, datado de 2011, intitulado R.O.C. (400 plus one), durante o qual uma modelo se vai despindo enquanto lê em teleponto um texto de Wittgenstein. Em comum, sempre a presença da mulher, a erotização do corpo, a estilização do desejo.

Muitos dos trabalhos desta retrospetiva são apresentados pela primeira vez em público, como acontece com as suas primeiras pinturas oficinais, nas quais começa já a aparecer a figura feminina, embora através de sombras e "com a grelha modernista e referências construtivistas", refere João Fernandes.

Narrativas culturais

O percurso expositivo revela,  explica João Fernandes no texto do catálogo que será publicado a propósito da exposição, que "o artista convoca também para a sua contínua encenação da intimidade um conjunto de referências a narrativas culturais, que têm por origem a literatura, a filosofia, a arquitetura, a música ou o cinema, enquanto mitologias de uma época da qual ele nos oferece uma singular visão e escolha".

A inauguração oficial da retrospetiva realiza-se sexta-feira à noite, com entrada livre e um conjunto de performances que, na sua maioria, não poderão voltar a ver-se. Quando muito, mas essa é uma hipótese ainda em estudo, poderão vir a ser repetidas por ocasião do fecho da exposição.  

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Vídeo-Instalação de Julião Sarmento intitulada R.O.C. (Remarks on colour)
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Vídeo-Instalação de Julião Sarmento intitulada R.O.C. (Remarks on colour)

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O artista inspirou-se na obra "Remarks on Colour", de Ludwig Wittgenstein
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O artista inspirou-se na obra "Remarks on Colour", de Ludwig Wittgenstein

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R.O.C tem apenas uma actriz que lê, um a um, os quarenta e um fragmentos do livro de Wittgenstein...
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R.O.C tem apenas uma actriz que lê, um a um, os quarenta e um fragmentos do livro de Wittgenstein...

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... ao mesmo tempo que tira lentamente a sua roupa...
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... ao mesmo tempo que tira lentamente a sua roupa...

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... até se sentar, no fim, e ficar a olhar para o espectador
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... até se sentar, no fim, e ficar a olhar para o espectador

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A obra foi apresentada, o ano passado, na galeria brasileira Fortes-Vilaça
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A obra foi apresentada, o ano passado, na galeria brasileira Fortes-Vilaça

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O objetivo de R.O.C. é questionar papel da cor na composição pictórica
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O objetivo de R.O.C. é questionar papel da cor na composição pictórica

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