24 outubro 2012 10:26
Maria de Fátima Ferreira recebeu um fígado "novo" há 20 anos. O seu transplante hepático foi feito numa situação de emergência.
24 outubro 2012 10:26
Há 20 anos, Maria de Fátima Ferreira foi "devolvida à vida" pela equipa do cirurgião Linhares Furtado, dos Hospitais da Universidade de Coimbra, que lhe realizou o primeiro transplante hepático da história daquele hospital.
Hoje, é a pessoa que vive há mais tempo com um fígado transplantado em Portugal e sente "orgulho" pela sua cirurgia ter "iniciado uma nova etapa que permitiu salvar muitas vidas".
No dia 22 de outubro de 1992 recebeu o diagnóstico de hepatite B fulminante e dois dias depois fica em coma, dá entrada no Hospital de Aveiro e é de imediato enviada para o Hospital da Universidade de Coimbra (HUC).
Linhares Furtado, cirurgião que a 26 de outubro realizou o transplante, recorda o caso como o primeiro transplante em Portugal numa situação de emergência.
20 anos de vida saudável
"Tratava-se de uma pessoa saudável e, subitamente, o fígado entrou em falência, o que significava, em poucos dias, a morte. É a doente viva mais antiga do país e hoje, 20 anos depois, tem uma vida saudável", relata à agência Lusa o médico Linhares Furtado.
Agora com 50 anos, Maria de Fátima é educadora de infância, diz que goza de boa saúde e não sente qualquer tipo de limitação. "Mantenho uma vida perfeitamente normal. Os cuidados de saúde que tenho são aqueles que todos deveríamos ter: alimentação saudável, exercício físico moderado e encarar a vida pelo lado positivo", conta à Lusa.
O caso de Maria de Fátima deu início a um programa que, em duas décadas, já permitiu realizar nos HUC cerca de mil transplantes de fígado.
Na área pediátrica, o agora Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) é o único no país capaz de realizar transplantes hepáticos, feitos pela mão de Emanuel Furtado, cirurgião e filho de Linhares Furtado.
Dois anos depois da cirurgia de Maria de Fátima, uma criança de oito anos chega aos HUC com uma hepatite B fulminante, depois de ter passado por outros dois hospitais em Portugal.
Filho de emigrantes na Alemanha, Paulo Jorge Leite foi a primeira criança a receber um fígado em Portugal. Hoje com 27 anos, são poucas as memórias que guarda dos internamentos, da cirurgia e da recuperação.
Taxa de sobrevivência entre os 95 e 100%
Recorda como certeira a decisão dos pais de terem saído da Alemanha para procurar ajuda a Portugal, país que em 48 horas lhe conseguiu um fígado compatível: de um jovem de 20 anos, residente na zona de Lisboa.
"Não tenho problemas de saúde, faço uma vida normal, com os limites de quem procura uma vida saudável", explica Paulo Leite à agência Lusa, contando que apenas tem de ser acompanhado trimestralmente pelo médico, tal como acontece com Maria de Fátima.
O cirurgião Linhares Furtado lembra que em 20 anos houve transformações técnicas que contribuíram para obter "resultados excelentes", com taxas de sobrevida nos transplantes de fígado, rim ou pâncreas entre os 95 e os 100%.
Alterações sofreram também o tipo de dadores. A diminuição de acidentes de viação nos últimos anos fez alterar o perfil do dador, recorrendo-se mais a doentes idosos, em que muitas vezes é mais difícil encontrar órgãos de qualidade.
Segundo dados da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação, no ano passado houve 116 transplantes hepáticos, quando em 2010 tinham sido feitas 129 cirurgias.
Os 20 anos do primeiro transplante hepático em Coimbra vão ser hoje assinalados no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, com a presença da primeira doente e da primeira criança transplantadas.