Atualidade / Arquivo

Há cada vez mais crianças a escrever ao Pai Natal

14 dezembro 2010 21:02

Carla Tomás (www.expresso.pt)

Em 2009, os CTT receberam 300 mil cartas. Este ano esperam mais. A todas enviam resposta. Sem custos.

14 dezembro 2010 21:02

Carla Tomás (www.expresso.pt)

Em 2009, os CTT receberam 300 mil cartas. Este ano esperam mais. A todas enviam resposta. Sem custos.

No fim do dia de escola, Manuel contou a novidade à mãe: "Hoje fomos levar uma carta ao Pai Natal, mas ele não estava lá". O "lá" era o posto dos Correios perto do infantário. "Mas ele vai receber o meu desenho", continuou convicto o menino de três anos. "Pedi-lhe um arco e flechas, como o do Robin dos Bosques... porque me porto bem".

Como o Manuel, milhares de crianças todos os anos continuam a enviar cartas ao senhor das barbas brancas, que acreditam viajar num trenó puxado por renas, para lhes trazer presentes na noite de 24 de dezembro. E são cada vez mais. O número de cartas ao Pai Natal tem vindo a subir: de duas mil em 1985 para 300 mil em 2009, contabiliza o grupo CTT. E, este ano, estima receber ainda mais. A grande afluência começa na próxima semana.

Nas cartas que já chegaram este ano, a maioria das crianças desenhou Pais Natal, renas, árvores com estrelas e bolinhas e as prendas pelas quais anseiam. Os que já dominam as letras, como a Rita (10 anos), dirigem-se pessoalmente ao ser "espetacular" que "entrega presentes a todas as crianças numa só noite".

Rita apela para que ele lhe dê "uma bateria e baquetas novas", porque este ano entrou para a orquestra e precisa "mesmo de estudar". Já o Filipe (9 anos) confessa "pregar rasteiras no futebol", mas gostaria de receber "fortes de numeração romana e livros dos astros e do corpo humano ". Uma "pista de Hotweels" é requerida pelo Pedro (7 anos), que promete "leite e bolachas" em troca. A Catarina (7 anos) pede "uma máquina de fazer gelados". E, por ter boas notas a língua portuguesa (e não tão famosas a matemática), Isabela quer "um livro da Hannah Montana".

Muitos dos desejos são comuns. Querem carrinhos, Nenucos, bolas, Barbies magia da moda, livros, consolas, castelos, bicicletas, violetas-mais-espertas, comboios e o que mais lhes aprouver. Os que não sabem escrever têm uma mãe ou uma educadora que o faz por eles. Outros desenham o presente preferido ou recortam e colam o que viram em brochuras publicitárias.

Dirigem as cartas ao Polo Norte, à Lapónia, à avenida das Estrelas. "É a única correspondência que pode circular na rede CTT sem selo", explica Miguel Salema Garção, diretor de Comunicação e Relações Públicas do Grupo CTT.

A Operação Pai Natal dos Correios conta com uma equipa de dez pessoas em exclusivo nesta quadra. Apesar da casa do senhor das barbas brancas ter os destinos mais remotos, toda a correspondência acaba centralizada no posto de distribuição de Cabo Ruivo, em Lisboa. É assim há 25 anos.

E, como sempre, obterão uma resposta. Este ano o pai-natal- CTT responde-lhes com uma pequena lembrança: um jogo em papel do "Quanto-Queres". Devem construí-lo e "descobrir coisas sobre o Ambiente".

Cartas nas redes sociais

Com a crise a acentuar-se, também chegam ao 'polo norte' pedidos "pungentes" com meninos e meninas a pedir saúde ou emprego para pais e avós.

É para consolar os desejos de crianças de meios desfavorecidos, que os Correios voltam este ano a combinar as cartas ao Pai Natal com a iniciativa de luta contra a pobreza e exclusão social. Chama-lhe Pai Natal Solidário. E a novidade de 2010 é o meio de comunicação ser a rede social Facebook.

Em http://www.facebook.com/opainatal - que conta já com mais de 15 mil fãs - estão os pedidos de um milhar de crianças de 40 instituições que acompanham ou albergam menores em risco. Entre elas contam-se a Ajuda de Berço, a Acreditar, a Casa do Gaiato, o Centro Helen Keller, a Obra do padre Américo, o Refúgio Aboim Ascensão, a SOL ou a Comunidade Vida e Paz.

O Duarte quer "canetas e lápis para pintar, porque na turma são todos artistas". E já agora, "os livros com os CD dos reis". O Pedro, que frequenta uma escola "para meninos com deficiência visual" pede "um livro de plantas, outro do corpo humano, dicionários de língua portuguesa e CD de música ambiente para a sala", além de "bolas de minibasquete".

A identidade e origem das crianças é ocultada, mas quem as quiser apadrinhar consulta as cartas no Facebook ou nas estações de Correios, escolhe a/o afilhada(o) através do número de referência da carta e tem três dias para enviar a encomenda via CTT. Não custa nada. É Natal.

 

307

mil cartas foram postas no correio em 2009 com destino ao Pai Natal. Este ano, os Correios esperam um número superior. Já receberam 10 mil até esta semana

40

instituições de beneficência aliaram-se à iniciativa Pai Natal Solidário dos CTT, envolvendo um milhar de crianças

500

cartas de crianças ligadas a estas instituições foram já apadrinhadas através do Facebook

15

mil fãs aderiram a http://www.facebook.com/opainatal

Texto publicado na edição do Expresso de 11 de dezembro de 2010