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França: A queda da estrela Rachida Dati

24 janeiro 2009 20:16

Daniel Ribeiro, correspondente em Paris

A ministra da Justiça, de origem árabe, vai sair do Governo francês devido a más relações com o ex-amigo íntimo, Nicolas Sarkozy, e com... Carla Bruni.  

24 janeiro 2009 20:16

Daniel Ribeiro, correspondente em Paris

Quando Nicolas Sarkozy era casado com Cecília Ciganer, Rachida Dati era a primeira pessoa a telefonar-lhe todas as manhãs para casa. Continuou a fazê-lo depois da separação de Sarkozy. Mas, após o casamento do Presidente francês, em terceiras núpcias, com Carla Bruni, Rachida foi obrigada a parar com os telefonemas para o amigo íntimo.

"Rachida, pára de ligar para aqui, o Nicolas é casado!", ordenou-lhe um dia, secamente, a nova primeira-dama e ex-modelo franco-italiana, segundo revela um livro recentemente editado em França.

Rachida engoliu em seco e deixou de telefonar a 'Sarko', como ela o tratava. Depois do casamento de Sarkozy com Carla, Rachida, que continuou a ser amiga pessoal de Cecília, deixou de fazer parte do círculo das personalidades mais próximas do Presidente. Começou a cair em desgraça nessa época.

Sarkozy parou então também de a apoiar no Ministério da Justiça, onde a governante defrontou desde a sua nomeação a hostilidade da generalidade dos magistrados e dos advogados franceses, que contestavam a suas reformas na Justiça.

Há dias, Rachida enfrentou igualmente críticas das feministas e de associações de mulheres. Depois de ter dado à luz, por cesariana, uma menina - Zohra, que significa "estrela", em árabe, filha de pai desconhecido - não aproveitou as semanas de descanso que a lei prevê para as mulheres depois do parto e recomeçou a trabalhar apenas cinco dias depois da intervenção a que se submeteu.

As francesas acusam-na de pôr em causa, desse modo, os direitos adquiridos das mulheres.

Mas o motivo do seu regresso apressado ao ministério sob sua tutela terá sido outro: Rachida receava que o Presidente e muitos dos seus colegas e inimigos no Governo aproveitassem a sua ausência para a enfraquecer ainda mais.

Pouco antes do parto, Rachida tinha recusado sair do Governo para encabeçar a lista do partido da maioria (UMP) no círculo de Paris, nas eleições europeias de Junho deste ano.

A proposta fora-lhe feita por... Sarkozy. Agora, foi obrigada a aceitar o segundo lugar no mesmo círculo - a lista será encabeçada pelo actual ministro da Agricultura, Michel Barnier - e terá de sair à mesma do Governo.

Rachida Dati, solteira, 43 anos de idade, era uma das principais estrelas do executivo do primeiro-ministro François Fillon, onde representava os descendentes da imigração magrebina em França. Rachida nasceu numa humilde família de 11 irmãos: o pai é um ex-pedreiro marroquino e a mãe, doméstica, é argelina.

A ainda ministra da Justiça - deixará o cargo até à data do escrutínio europeu - tem recusado dizer quem é o pai de Zohra, correndo em França os mais espantosos rumores.

Um deles é de que o pai é o ex-primeiro-ministro espanhol, José Maria Aznar, o que este desmentiu oficialmente. Outros dizem tratar-se de uma alta personalidade francesa - um membro do Governo ou mesmo o Presidente!