16 janeiro 2009 18:27
Condenada a 16 anos de prisão pelo homicídio da filha, Leonor Cipriano reconhece ter participado num esquema para vender Joana a um casal sem filhos, que a levaria para o estrangeiro. Mas o negócio correu mal.
16 janeiro 2009 18:27
Segundo uma declaração de oito páginas hoje apresentada à comunicação social pelo seu advogado Marcos Aragão Correia, Leonor Cipriano admite ter sido cúmplice do irmão, João Cipriano, num esquema que pretendia realizar dinheiro em troca da venda da criança, entregando-a a um casal sem filhos.
"O meu irmão convenceu-me (...) que eu não tinha condições para cuidar de três filhos, que eles iam ser uns miseráveis como eu, sem dinheiro e sem estudos. Que ele conhecia um casal que não podia ter filhos e que ele lembrou-se que podiam ser uma nova família pelo menos para a Joana", afirma Leonor no documento apresentado pelo causídico e por ela subscrito.
Leonor Cipriano refere ainda que segundo as informações do irmão - também ele condenado pelo homicídio e ocultação de cadáver da criança - Joana seria levada para o estrangeiro, a troco de dinheiro, e que ambos teriam de inventar uma história para o seu desaparecimento, uma vez que a lei não lhes permitia entregá-la para adopção ao casal.
Segundo a nova versão de Leonor, a 12 de Outubro João terá agarrado num saco de plástico com roupas, depois de ter combinado entregar Joana, mas terá regressado uma hora e meia mais tarde, sem o dinheiro e com sangue nas calças. João terá então confessado que o casal não tinha o dinheiro e que Joana se apercebera de tudo e ameaçara contar, pelo que acabou por espancá-la, provocando-lhe a morte. O corpo teria sido enterrado "lá para cima nos montes da Figueira".
A declaração terá sido obtida quinta-feira à tarde, no Estabelecimento Prisional de Odemira, aquando da visita a Leonor por parte do advogado, que agora quer que o Ministério Público abra um inquérito para efectuar novas buscas na Figueira e para identificar o casal que queria 'adoptar' Joana.
"Mais vale contar tarde a verdade do que nunca, eu sou advogado dela mas também me sinto advogado da Joana", refere Aragão Correia. Mas, na prática, para abrir um novo inquérito de pouco ou nada servirão estas declarações, uma vez que tanto Leonor como João Cipriano já foram condenados por homicídio e a sentença transitou em julgado.
Leonor, aliás, já tinha culpado o irmão pela morte da filha aquando dos interrogatórios da Polícia, que não foram tidos em conta uma vez que ambos se remeteram ao silêncio em tribunal. Mas se é pouco provável que o Ministério Público reabra o 'caso Joana', certo é que as declarações de Leonor poderão ter impacto no desfecho do Tribunal de Júri que está a julgar as alegadas agressões à mãe por parte de elementos da Polícia Judiciária, isto apesar de na mesma carta Leonor reafirmar que foi espancada pela PJ.
"Eu não percebo porque ele está a dar-nos uma série de trunfos e isto é muito grave" retorque António Pragal Colaço, advogado de quatro dos inspectores acusados. "Se o procurador [do Ministério Público] fosse uma pessoa corajosa desistia deste processo e a Ordem dos Advogados também, porque a minha sanidade mental está a ficar abalada com este processo", afirma.
"Confiei no monstro do João. Só queria o melhor para os meus filhos, para a Joana. Perdoa-me, daí do Céu, minha querida Joana, perdoa-me", termina Leonor Cipriano, colocando assim de novo o caso da morte da filha nas páginas dos jornais.